:: ‘Nando da Costa Lima’
Péricles Costa Lima, jornalista, faz um pedido pelo pai Nando Costa lima
Boa tarde, Massinha
Eu me chamo Péricles, sou um dos filhos de Nandão.
Primeiro eu gostaria de agradecer pela bela homenagem que você fez a ele em seu blog. Fiquei muito emocionado ao lê-la. Toda a família agradece de coração o carinho e o respeito dessa amizade de décadas entre vocês. :: LEIA MAIS »
“Piléra”
Por Nando da Costa Lima
Apesar da idade avançada, Dona Epistolina era lúcida e podia se locomover com facilidade. Só não podia beber bebida quente. A única bebida que ela ainda podia degustar era a Jurubeba Leão do Norte, ela até relacionava sua vitalidade com o melhor vinho composto do mundo. Mas quando tomava cachaça, ficava insuportável, ficava tão escrachada que foi o jeito parar. Tinha mais de quarenta anos que não bebia. Mas não é todo dia que se faz 90 anos, e essa data tinha que ser comemorada na fazenda preferida da matriarca, a “Três Cancelas”. Ela tinha mais energia que muita mulher jovem, não parava num canto! Não precisava de ajuda pra nada, só não gostava de dirigir. Mas isto não era problema: como era muito rica, sempre tinha uma cambada de netos e afilhados pra lhe acompanhar. Ficava viajando de uma fazenda pra outra, tinha várias! Mas a preferida era a Três Cancelas, ali foi o palco de grandes festas: São João, batizados, casamentos, etc. Na família tinha de tudo: cantor, ator, jogador de futebol, jogador de baralho, médico, pastor, político, padre… Tinha até um artista plástico famoso que ia presentear a madrinha com um quadro de um nu artístico. E foi esse presente o responsável pelo mal entendido entre Dona Epistolina e suas filhas, netas, afilhados e convidados.
A matriarca teve uma recaída e fundou na pinga, já tava empurrando o jipe. Falou o que devia e o que não devia, rasgou o verbo. Tudo começou quando o afilhado pintor tirou o pano que cobria a obra de arte. Dona Epistolina colocou a mão na cabeça e falou pro afilhado artista: :: LEIA MAIS »
Dr. Altamirando da Costa Lima completaria hoje 100 anos se estivesse vivo
Vitória da Conquista estaria comemorando hoje com muita festa o centenário do médico Altamirando da Costa Lima, o Dr. Miranda, como era carinhosamente tratado este ilustre cidadão conquistense, um exemplo de profissional da medicina, querido por todos, um homem de um coração do tamanho do mundo, generoso, amigo, esposo, pai e avô dedicado. :: LEIA MAIS »
O velho e saudoso “Carrasco” por Nando da Costa Lima
A boate mais famosa do interior da Bahia, não temos dúvidas, foi o Carrascão, nada que se pode comparar. Como diria hoje a turma jovem: “sem parêa!”.
No alto da Serra, chegávamos até o “Carrasco” passando por uma estrada esburacada que Roberão, o seu proprietário, fazia questão de não consertar apesar de algumas insistências. Bem, isso só posso contar no privado…
Nando da Costa Lima é um exímio contador de casos. Inteligente e criativo, sabe o que fazer com as palavras. A sabedoria, inteligência e generosidade é a marca da família Mendonça Costa Lima. :: LEIA MAIS »
No Berço do Paraquedas
Por Nando da Costa Lima
O avião todo mundo sabe quem inventou foi Santos Dumont em 1906. E quase todo mundo sabe que por ver sua invenção, criada para encurtar distâncias, sendo usada para tirar vidas humanas na Primeira Grande Guerra, que ele se matou. O que quase ninguém sabe é que o Paraquedas foi inventado antes do avião, e este fato histórico ocorreu aqui em Conquista antes da virada do século. Nossa Conquista ainda era menina… A igreja ficava abaixo da atual Catedral. Nossas matas eram tão densas que uma única árvore encontrada no Bem-Querer, serviu para todo emadeiramento da igreja. Estaconstruída em 1806 e demolida em 1932. Ali eram feitas as reuniões dos homens que comandavam a terra. Era um sobrado de dois andares, só que dois andares em uma construção do século XIX correspondiam a uns quatro andares atuais. As reuniões eram feitas na parte de cima, e graças a isso nossa terra tem o orgulho de ser a mãe do inventor do paraquedas. É que a coisa estava tão feia na Câmara, para variar, tinha um querendo mandar mais que o outro. Isso fez com que fosse marcada uma sessão extraordinária. Essa ocorreu sobre grande tensão, e mesmo antes de realizada gerou grandes transtornos na cidade. Um dos representantes do povo falou na Praça que se não se resolvesse a situação através do diálogo resolveria no porrete. Isso levou o Presidente da Câmara a providenciar dezesseis porretes antecipadamente (um para cada vereador) que ficaram à disposição caso o argumento falhasse. Aquela sessão estava sendo esperada por toda a cidade, todo mundo sabia que o pau ia quebrar. O vigário, sabendo disso, inventou uma viagem a Poções para não ser intermediário daquele bate boca. Enquanto o vigário arrumava a mala, os vereadores se preparavam para o debate e os moradores apostavam. Quem daria a primeira cacetada? Aquilo era o início do desenrolar de um grande fato histórico que passou despercebido à humanidade. Talvez porque na época não tivesse avião, mas se fosse uns cinquenta anos mais pra diante sem dúvida chamaria a atenção do mundo. Conquista perdeu este espaço na história devido a uma questão de tempo. :: LEIA MAIS »
O domador
Por Nando da Costa Lima
Aconteceu num revéillon…
Corinto Pranchão queria receber seus convidados do mesmo jeito que os “quatrocentões” paulistas recebiam antigamente. Ele passou a vida perseguindo a fortuna, só conseguiu aos 45 anos ao se casar com Marineide, vinte anos mais velha.Estavam aproveitando o fim de ano pra comemorar o primeiro ano de casamento, tudo tinha de ser de primeira. Até o peru veio dos States! O caviar russo e o champanhe francês faziam o maior contraste ao mau gosto da decoração da casa. Gerôncio foi o primeiro a chegar na recepção, encostou na mesa de comidas e mandou ver. Aproveitou que não tinha ninguém olhando e comeu como se estivesse em casa, lembrava um porco em cima de um cocho de ração. Só saiu dali quando a casa estava cheia, de longe ele enxergou Lina, tinha mais de um ano que tentava se aproximar daquela princesa. Até flores ele mandou, mesmo os amigos falando que aquilo não era coisa de homem, ele só estava ali porque sabia que ela viria. Tinha até decorado a prosa, como Lina era inteligente, ia falar de ecologia, política, música. Naquela noite querendo ou não ela ia ter que escutar seu papo de enciclopédia. :: LEIA MAIS »
Brasil com “Z”
Por Nando da Costa Lima
Valdirene estava desolada, já estava virando piada na cidade. Era o quarto noivado rompido semanas antes do casamento! E era ela que terminava. Os noivos, coitados! Um tentou o suicídio, dois se perderam na pinga e um endoidou. Ela era o sonho de qualquer homem: bonita, rica e “inteligente”. Uma mulher além do seu tempo. Estava cansada do Brasil, principalmente dos homens brasileiros. Conquistense então, “nem pensar, que horror!”. A família tinha que mimar, era filha única de um casal que fazia qualquer coisa pra felicidade dela. Foram eles que tiveram a ideia de mandar Valdirene fazer uma viagem pelo mundo pra esquecer as contrariedades e aproveitar pra ver se finalmente encontrava sua alma gêmea no exterior. No Brasil, nunca mais! “Cambada de interesseiros!”.
Pra ela seria fácil, seu inglês e francês eram fluentes. Isso, naquele tempo (anos 60) era raridade numa cidade do interior. Valdirene acabou cedendo ao apelo dos pais e saiu em turnê pelo mundo, pra gastar um pouco da fortuna (cobiçadíssima) e tentar achar um homem à sua altura. Nessa época, a mulherada sonhava com um galã italiano, eu acho que foi por conta das músicas italianas que invadiram nossas rádios. Não tenho certeza! Vai ver os italianos eram realmente bons amantes. As primas, mesmo morrendo de inveja, não deixaram de fazer as famosas encomendas que quem viajasse para o exterior no passado tinha que trazer! Era um absurdo! Teve gente que encomendou até um piano! Quem fosse viajar, era melhor despistar. Mas todo mundo fazia questão de espalhar que ia fazer uma viagem internacional, era “chic” falar que estava indo para a Europa.
Valdirene foi de avião até a Itália, já foi pensando em passar um mês em Roma, e em seguida sairia num cruzeiro pelo mundo, de preferência com um “pão” italiano (“pão” era o “gato”, do tempo de Benedicts). Tudo estava correndo bem na Itália, ela patrocinou almoços, jantares, passeios. Sempre procurando se enturmar com os romanos mais abastados. Mas na realidade, nem precisava ser da elite ou rico. Ela estava querendo um italiano bonito pra levar para Brasil. Claro, ele iria como noivo, e se casariam na catedral da terra do frio. :: LEIA MAIS »
Simpatia é coisa séria
Por Nando da Costa Lima
Lucicler entrou porta adentro enfezada e procurando pela mãe. A velha tava retada, tinha tempo que queria falar umas “verdades” para a filha, que sempre chegava em casa se queixando da vida…
— Mamãe, eu estou numa meeerda.
— Minha filha, isso é jeito de chegar em casa… Isso atrai coisa ruim! Já basta seu noivo!
— Mas é a realidade, eu estou me sentindo a última das derradeiras.
— Você sabe o porquê, não é? Foi mexer com coisa errada.
— Claro que não, eu nunca fiz nada que não pudesse confessar…
— Ô minha filha, você tá caducando antes do tempo? Já esqueceu da simpatia pra pegar o merda do seu noivo?
— Que simpatia, mãe? Tá querendo botar mais “grilo” na minha cabeça?
— Aquela que Marileide de Averaldo Bom Cabelo lhe ensinou. Parece até que deu certo, você acabou se envolvendo com esse traste que se não fosse a minha aposentadoria, já teria morrido. E olha que ainda nem casou.
— A senhora não perde uma chance pra implicar com o pobre do Teodolino, meu noivo. E ainda tá no tempo de acreditar em simpatia? Que coisa mais “retrô”! :: LEIA MAIS »
O Rei do Bode
Por Nando da Costa Lima
Da Choça até o Furado da Roseira, não tinha um criador que tivesse mais bode que Elpídio. Era o rei do bode, o solteirão mais cobiçado da caatinga! Elpidão arrasava, além de só andar bem vestido, tinha uma vistinha de ouro na dentadura, que acabava de matar a mulherada de paixão. Muitos tentavam imitá-lo, mas não chegavam nem aos pés, só ele com aquele palito no canto da boca e o dente de ouro à vista conseguia botar as meninas pra suspirar. Ter um caso com aquele “pão” (na época “pão” era o gato de hoje, e gato era sinônimo de ladrão) era o sonho da mulherada. Até mulher casada perdia as estribeiras quando ele passava no Corcel cor de abóbora com a jante roxa e luz interna de boate além dos pneus faixa branca e a frase escrita no para-choque traseiro: “100% macho”. O rei do bode tinha bom gosto, só comia filé a finas ervas acompanhadas do melhor vinho composto do mundo. E era um violeiro razoável, fazia questão de falar que aprendeu a tocar na beira do rio Gavião. Seu fraco eram as meninas de “Sompaulo”, tinham tudo com ele. Levava logo pro restaurante dormitório de Nilson. E a rotina de Elpídio era a mesma, quando não estava contando os bodes ou namorando, tava diante do espelho admirando a “lindreza” e falando pra mãe que se fosse mais novo ia tentar ser modelo em Conquista, modelo macho, daqueles que só faz propaganda de cigarro e bebidas fortes!
Mas nem tudo é pra sempre, principalmente beleza! O Rei do Bode de um dia pra outro começou a amarelar e perder peso. Os entendidos foram em cima: deve ser próstata. Desse dia em diante a vida dele virou um inferno. Já tinha batido em meia dúzia! Era só ouvir falar em toque retal que o homem endoidava. :: LEIA MAIS »
Beco da Tesoura
Por Nando da Costa Lima
Foi aqui que se encontraram Íris Silveira, Erathostenes Menezes, Camillo de Jesus Lima e outros grandes poetas mateiros e caatingueiros. Todos matreiros!Nossa terra tem o hábito de abrigar grandes almas! Uma época brilhante da poesia conquistense: “Me solta gente, eu quero atravessar a fronteira…”, este brado de Camilo explica tudo.
E o poeta, como sempre muito elegante, atravessou o Beco da Tesoura com muita pressa. Eros tava pensativo, tinha que arrumar um meio de ficar em Conquista, tinha bebido da água do Poço Escuro e se enraizado na terra dos Mongoiós. O Olimpo fez de tudo para resgatá-lo do meio dos mortais, mas sabia que era quase impossível, ele estava apaixonado pela poesia que emergia da Terra do Frio. Estava tão apaixonado por Conquista que só voltou ao velho mulungú da terra onde foi concebido para fazer sua última homenagem a um amigo cuja beleza ficou no passado! “Buscando a tua sombra / a evocar o passado / a ti eu me compara amigo abandonado / Tu já não temmais vida, e eu já não canto mais”. :: LEIA MAIS »