Por Edvaldo Paulo de Araújo

Durante a minha vida, passei por muitas e muitas dores alucinantes. Quantas vezes, pelas ruas de minha cidade, noites de neblinas,  a chuva no meu rosto fundiu com minhas lágrimas? . Sentia-me  absolutamente sozinho, sem amparo, sem palavras de consolo e lutava com o remédio da oração, para acalmar meu coração. Tantas vezes….

Casei, fiz uma família e esses estados minoraram, as dores foram mais aliviadas pelo aconchego dos meus, mas sempre a mesma constatação: a solidão da sua dor.

Ano passado, num pedal fatídico, estava com o meu melhor amigo, Onildo Oliveira Filho, que, no retorno, depois de 17km pedalando, veio a sentir-se mal. Mesmo com os meus cuidados, veio a falecer nos meus braços. Estabeleceu -se, por algum tempo, a esperança de que ele se restabelecesse, mas aconteceu e tinha acontecido no fatídico momento a sua morte. Foi uma dor dilacerante.

É uma grande dor. Durante um bom tempo, o sofrimento da sua perda, a lembrança do momento, a insistência dele naquele dia para pedalar, ficaram impregnados em mim, num sofrimento sem fim.

Refugiei-me em orações, buscando ajuda dos espíritos de luz, guiados pelo amor de Jesus, mas me veio aconstatação de como a dor é solitária, como ela está tão dentro de nós, de como ela fica impregnada no nosso ser, numa solidão sem fim. Por mais que tenhamos amparo, mas há os momentos sozinhos e aí ela aflora e vem a mais ampla e torturante solidão dessa dor.

O que fazer? Diz André Luiz: “Não permita que a dificuldade lhe abra a porta ao desânimo, porque a dificuldade é o meio de que a vida se vale para melhorar-nos em habilidade e resistência”. Não há como fugir, se acalmar, orar e ter a certeza ligada totalmente, a esperança de que vai passar, de que faz parte do viver nesse planeta, que essas alternativas são para aprimorar nossa resistência como diz nosso amado André Luiz.

A fé é o remédio seguro do sofrimento; mostra sempre os horizontes do infinito diante dos quais se esvaem os poucos dias brumosos do presente. Não nos pergunteis, portanto, qual o remédio para curar tal úlcera ou tal chaga ou a solidão da sua dor. Lembrai-vos de que aquele que crê é forte pelo remédio da fé. Não sufoque a sua dor, compartilhe, busque ajuda, mas saiba ela é sua e só você vai sair dela.

Pierre Teilhard de Chardin, Jesuíta, paleontólogo, antropólogo francês, que viveu entre 1881 e 1955, autor do conhecimento do livro O FENÔMENO HUMANO, dividiu os homens em três categorias:

Os cansados – que têm um conceito pessimista e negativo da existência .Para eles existir é um erro, um engano. Tal atitude traz insatisfação, incapacidade para encontrar um sentido para a vida, infelicidade.

Os ociosos – levados à contínua busca do prazer. Para eles, viver é gozar, provar sensações, fazer experiências agradáveis, procurar a felicidade no sentido mais exterior e materialista.

Os ardentes – para eles, a vida é uma contínua ascensão para estados mais profundos de consciência. O homem é um ser capaz de aperfeiçoar-se, de progredir, de realizar-se em toda a sua plenitude. Viver é crescer, procurar a verdade. São chamados ardentes porque uma chama arde dentro deles: A CHAMA DA ASPIRAÇÃO AO VERDADEIRO, AO REAL, A CHAMA DA PROCURA DO DIVINO, DA HARMONIA.

“As palavras do homem de Nazaré esclarecem serem bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados, indicando o Divino Jardineiro a compensação que aguarda aqueles que sofrem com resignação, olhando e sentindo no imo d’alma que essa virtude abençoa o sofrimento, anunciando o prelúdio da cura no relógio do tempo da solidão da sua dor

A propósito das dores, análogas ao  relógio do tempo, cuja temporalidade marca o fim do sofrimento. As dores podem ser físicas e da alma, sempre ensejando a reflexão para responder a curiosidade do porquê uns veem e não compreendem as dores, enquanto criaturas há que nascem em ambientes de extrema miséria sem se espicaçar os que nascem na riqueza.

Nesse sentido, sem contradita, uma das grandes questões existenciais sempre foi o desejo dos viandantes compreenderem o porquê do sofrimento, quando lançamos o olhar sob a égide de Deus, que é justo, bom e misericordioso, compreenderemos a razão da dor e da sua solidão.

Quando estiver dentro dessa solidão na sua dor, olhe pra traz e verá irmãos em condições extremas e piores que a sua. A nossa saída é a luta nas orações e na busca de ajuda e preenchimento dos momentos de dor com ações purificadoras de proporcionar ajuda àqueles que precisam e que estão numa solidão mais profunda do que a nossa dor.

Jesus é o Senhor que a todos e a tudo cura!