Dezoito anos depois
Por Valdir Barbosa
Os meninos mais gulosos ainda lambiam os dedos sentados ao chão, frente aos pratos, onde foi servido caruru oferecido aos Ibejis. Refrigerantes findavam nos copos de plástico e os caramelos, responsáveis por arrematar o repasto aqueciam a algazarra própria da efeméride onde os Santos Meninos – São Cosme e São Damião – são reverenciados todos os anos, quando ela seguiu para cumprir seu grande desiderato e o maior dos privilégios, dádiva apenas concedida às mulheres. Ser mãe.
Atendida pela obstetra e enfermeiras responsáveis pelo parto, na mesma casa de saúde palco de sua vida laboral, por alguns anos, tudo fazia crer que o trabalho seria rápido, assim, o filho ansiado viria no 27 de setembro, mas, não haveria que ser. Apenas muitas horas depois do dia seguinte, finalmente, João, o Gabriel de Roberta inspirou pela primeira vez uma lufada de oxigênio serrano marcando sua presença nestes tempos da contemporaneidade.
Acostumada constantemente a luta, ao sacrifício, ao enfrentamento das dificuldades com a audácia retirada das entranhas d’alma, não desistiu um só instante e superou todas as dores. A guerreira que veio de longe preparada para ir além, no momento que foi preciso fazer força para sentir rasgar suas penetras físicas e dar vida ao sentido da sua própria vida não capitulou. Desta forma continua e continuará agindo, até quando vida tiver.
Desde então junto com o rebento, hoje homem, lhe fez entender, com palavras e exemplos, ser esta vida uma oportunidade para aprender e ser melhor, no sentido de evoluir praticando ações dignas servindo ao semelhante, sobretudo os mais necessitados, sem buscar nada em troca.
Colocou-o diante das mais simples, porém profundas lições, de ética e moral. Fez-lhe tomar gosto pelo Evangelho, a Palavra capaz de dizer tudo, posto fundada no único primado que verdadeiramente eleva, o Amor. Busquei, nos dezoito anos velozes que voaram, ser a companhia capaz de honrar esta mãe, presente de Deus dado a você, nesta passagem pelo mundo de aprendizados e testes.
Continuaremos, eu e ela, até o fim, sem medir esforços, na lida por oferecer a ti não a colheita, mas os nortes objetivando aprendas a semear boas sementes, certos de que colhemos tudo aquilo o quanto plantamos, mas, além de tudo, convictos de que pessoas realizadas não são aquelas que recebem a safra pronta.
Pretenderemos sempre, por mais seja difícil para nós assisti-lo distanciar-se, ao seguir na longa estrada que haverás de construir com sacrifícios pessoais, sigas livre para decidir com seus próprios propósitos e que eles sejam sempre bons, pois bons intentos contaminam, por isto, sempre foi nosso objetivo tê-lo contaminado com o bem, a fim de que assim contamines todo seu entorno e tudo mais adiante, até o ponto que sua energia possa alcançar.
Poderia dizer, gostaríamos continuasses tendo as madeixas loiras dos primeiros anos, desde quando sonhamos acordado vendo-o balbuciar as primeiras palavras e adormecendo em nosso regaço, após ouvir cantigas de ninar, assim pretenderíamos fossemos egoístas e incapazes de entender que a vida anda para frente. Sabemos, dentro em breve, filhos de seus filhos serão realidade, na dinâmica especialíssima desta vida tão bela, por isto, o criamos para ser um pássaro capaz de voar sem limites, porém, consciente das suas responsabilidades.
Hoje, meu filho, quando atinges a maioridade relativa, lhe presto, e também a tua sublime mãe esta homenagem, na esteira das lembranças emocionantes destas inesquecíveis duzentas e dezesseis luas cheias, imponderáveis de haver brilhado no nosso céu sem você.
Parabéns,
Felicidades.
Dr. Valdir Barbosa e sua literatura lírica e agradável aos que tem uma sensibilidade singular.