:: ‘Valéria Figueira’
Volta pra casa
Por Valéria Figueira
Todas as vezes em que eu chego em Conquista, quando já estou perto da roça, toca um forrozinho. Vale atentar que forrozinhos são aqueles dos quais temos intimidade. Dos que costumávamos ouvir de cá da fogueira quando criança, enquanto soltávamos traques, e depois quando saíamos procurando as festas dos povoados vizinhos, pois os de Conquista não prestavam. Só valiam aqueles em que era possível ouvir o arrasta pé no chão. Lembro-me tanto que era desfeita fazer escolha, se aceitasse dançar com um tinha que dançar com todos, e eu sempre estava disposta. Geralmente o cavalheiro estendia a mão na sua frente, e já chegava dançando, mas nada de grude, nada de perguntar o nome ou pedir o telefone. Era pra dançar, ou viver aquelas músicas, de preferência com puladinhos, dois pra lá e dois pra cá.
Vinha então na estrada com uma saudade da minha mãe, do meu pai, da minha tia Leu, da minha terra. Nesses tempos sombrios então, voltar pra casa era mais que um chamado. :: LEIA MAIS »
Anseios e Ansiedade
Por Valéria Figueira
Ansiar quer dizer desejar. Para a psicanálise, o ser desejante é o que faz, que atua. Trata-se do contrário de ser apático, que vem de pathos, que quer dizer sem patologia, sem paixão. Ansiar (desejar) é, portanto, uma força impulsionadora para as realizações.
Por sua vez, a palavra ansiedade, segundo Lúcia Helena Galvão (2018), vem do latim angere, tem a mesma raiz de angústia e significa apertar, sufocar. A pessoa sob o espectro da ansiedade não vê as coisas em si, mas a projeção do pior do que poderia acontecer. A situação é sempre dual, mas o ansioso tende a olhar pro lado negativo. Isso torna a ansiedade o pano de fundo de fobias, estresse pós traumático e a base de transtornos mentais como, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de pânico.
Delgalarrondo (2019) aponta que nesses quadros, são frequentes sintomas como insônia, dificuldade para relaxar, angústia constante, irritabilidade aumentada e dificuldade em se concentrar. No período que antecedeu a pandemia do COVID-19, experenciávamos a epidemia da ansiedade. Imaginem o efeito dessa mistura! :: LEIA MAIS »
Luto
Por Valéria Figueira *
Quando aconteceu o primeiro óbito em Conquista em decorrência da covid-19, muitos sentimentos passaram por nós. Percebemos que a morte está mais próxima e precisaremos ressignificá-la. Certamente essa é a mais dura lição desta pandemia.
Além da quantidade, da forma inédita em que a morte está se manifestando, precisamos lidar com a grande dor de não participarmos do sepultamento dos nossos entes queridos, como estávamos habituados. “Parece frio e desumano, não poder abraçar, é um sentimento de muita tristeza não poder prestar nenhuma homenagem na última despedida”- relatou uma amiga.
Sabemos que o luto é um importante rito de passagem, e que os ritos fazem parte da natureza humana. Eles são culturais, vêm de nossos ancestrais e estão tão arraigados, que raramente paramos pra pensar se eles fazem sentido. :: LEIA MAIS »
- 1