É muito difícil prever o resultado de uma eleição em uma cidade como Vitória da Conquista, com uma população de quase 400 mil habitantes, reconhecida como polo de saúde, educação, construção civil, além de turismo e gastronomia. Grande parte dos conquistenses é independente, cuida de seus negócios, de seus comércios, e recorre aos serviços da prefeitura não para pedir favores, mas para garantir que suas vidas profissionais sigam o curso natural.

Conquista é uma cidade ativa, sabe votar. Claro, comete erros, mas logo em seguida os corrige.

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Esta eleição apresenta-se de forma diferente. Os acontecimentos se desenrolaram desde a partida do prefeito Herzem Gusmão e a consequente assunção de sua vice, Sheila Lemos. “Caiu no colo dela, não foi eleita, não tem condições de ser prefeita de Conquista” — esses foram os primeiros comentários, preconceituosos e raivosos, vindos, pior ainda, de membros do próprio governo, que ganharam força nas redes sociais por parte de correligionários.

A oposição, por sua vez, manteve-se quieta, em silêncio. Criticar por quê, se o trabalho já estava sendo feito por outros? O desejo da oposição, como é natural, era o desgaste da prefeita, esperando que ela fosse “fritada” dentro de sua própria casa, no seu próprio ninho.

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Catingueira, nascida no distrito de Iguá, resistente como “espinho de quiabento”, deixou o tempo passar e começou a direcionar seu governo. Com espírito republicano, passou a dialogar com os deputados Zé Raimundo, Fabrício Falcão e, se não me engano, até com Waldenor. Isso acendeu ainda mais o ódio do “fogo amigo” quando ela convidou o vereador Chico Estrella para ser o líder do governo na Câmara, substituindo Ivan Cordeiro, correligionário e amigo pessoal.

Esse gesto mostrou a habilidade política de Sheila, uma decisão milimetricamente calculada. Ela sabia o que estava fazendo. Chico tornou-se o mais fervoroso defensor do governo, e assim permanece até hoje.

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O tempo passou, as críticas continuaram, mas Sheila se manteve fiel ao legado do ex-prefeito Herzem, honrando suas conquistas. Aos poucos, ela foi assumindo as rédeas do governo e deixando claro que “a prefeita sou eu”. Com isso, foi levando a gestão e deixando o tempo seguir seu curso.

“Conquista terá segundo turno”, afirmou ontem o ministro Rui Costa em coletiva de imprensa. Todos se lembram de que Sheila foi, inicialmente, considerada “carta fora do baralho” na disputa eleitoral de outubro. Hoje, ela é mencionada como uma das favoritas dos conquistenses para ser a próxima gestora.

“A disputa é difícil, mas fico feliz em saber que a cidade está reconhecendo nosso trabalho”, disse a prefeita e candidata à reeleição.

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Sheila soube dialogar com a Câmara de Vereadores. Foi necessário um bom tempo para que seus adversários, Fernando Jacaré, Waldemir Dias, Andresson Ribeiro, Alexandre Xandó e Viviane Sampaio, começassem a criticá-la mais duramente, o que só ocorreu mais próximo às eleições. Antes disso, as críticas sempre foram respeitosas.

Um exemplo de como Sheila soube dialogar com o legislativo é que dois vereadores do PCdoB, Luciano Gomes e Ricardo Babão, ainda não se posicionaram como adversários da prefeita, resultado de uma relação estreita, respeitosa e de amizade.

Política é uma arte, uma ciência que exige “jogo de cintura”, equilíbrio e diálogo — qualidades que Sheila demonstrou ter adquirido. Ela terminará seu atual mandato como uma líder incontestável, tendo conquistado a confiança de seus correligionários e o respeito de seus adversários, que sabem que enfrentam uma concorrente à altura. Independentemente do resultado das urnas, surge uma nova liderança na política conquistense.

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Quem enfrentará Sheila no segundo turno? A pergunta não é tendenciosa, é uma constatação do que vemos e ouvimos pelos quatro cantos da cidade. É o que está sendo admitido por analistas políticos, eleitores e até pelos adversários.

“Política é como nuvem, muda de lugar a qualquer momento”, já dizia um experiente mineiro.