Por Marco Jardim

Quando eu não souber o que fazer, nem o que dizer, melhor que eu saia de cena.
Tenho aquela inquietude intelectual que me faz devorar livros, revistas, artigos e qualquer outro manual de informação.
Escape de alguma constante solidão.
O fato é que estou provando o gostinho amargo do apagão.
Hora de mudar de perspectiva, fazer outro teste de estúdio, outro esporte.
Tiro o alvo? Tento a sorte?
Estou tateando no escuro, despedindo-me dos que não enxerguei os rostos, andando a esmo, sem flertes nem poesia, e até pensando se não podia acontecer algo fortuito no breu daquela alameda.
Se alguém me tomar à força, que preserve, pelo menos, as peças de seda.
No entanto, o máximo que tem acontecido é eu pagar de pós-modernista em perturbação a uma ordem alfabética: Adélia, Callado, Hilda, Trevisan, Ubaldo e outros escafandristas.
Nomes tão estranhos e informalistas quanto o meu.
Outras palavras em voga nessa disposição metódica de dias de pouco sol: fascista, incompetente, degredado.
Nesta noite renitente, estou meio que caos afetado, ainda que com um sumido traçado de organização.
Tenho sido como uma tela de Jansen, sujo, descascado, grafitado, tipografado, unanimemente desconhecido, fotografado sem que me peçam licença e…só.
Talvez eu deva escovar os cabelos pra parecer melhor.

Talvez deva ser singular, porque meu subconsciente é, hoje, mais famoso do que eu.
Eu sou o neo-expressionismo latino-americano invertido.
Meu nome burlesco, Marcus Antonius, é entonado com mais empostação que minha origem.
Estou tão embaciado que não ardo.
Pra se ter uma ideia (vaga), a palavra forte do meu dicionário acanhado continua sendo “perdão”.
-Perdão, senhora, nunca pertenci a uma família aristocrata.
-Desculpe, moço, não tenho muita cultura.
-Sinto muito, querido, ando esgotado, nervoso, escaldado.
Não tenho passaporte, não tenho namorado.
Sabe o que me caetanearam da última vez?: “Você é o tipo de amor que não pode dar certo na luz da manhã”.
Quer saber? Não me queixo.
A culpa é da anciã chamada rotina, que vive impondo restrições de desleixo à minha criatividade leonina.
Por favor, dê uma bofetada na minha cara e diga que estou vivo!
Que sou gente fina, descolado, inteligente, que tenho algum estilo.
Sei que, por vezes, sou débil, cabeça de vento, apagadinho da estrela, palavra sem acento, mas…compreenda: eu tenho um pátio e uma esquina.
Tenho um punhado de palavras escritas que cantam e uma vela.
Tenho uma tarde que passa no alpendre, uma mesinha de tronco com banquinho, uma sobra de primavera e um vinho.
É o que tenho pra hoje.