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Sublimação de axé na lavagem dos garimpeiros de Lençóis

Alexandre-Aguiar

Por Alexandre Aguiar*

Seguem algumas fotos da Lavagem da Igreja do Padroeiro dos Trabalhadores Artesanais das Lavras Diamantinas da Bahia na Cidade de Lençóis, que acontece desde 1852, ano da chegada da imagem católica, quando os garimpeiros, mineiros, vindos do Tejuco, Diamantina e etc, já estavam na procura e cata dos diamantes e carbonatos nos veios dos rios locais.

O culto ao Padroeiro dos Garimpeiros Artesanais continua acontecendo mesmo após a mudança de época que findou o extrativismo mineral na cidade de Lençóis, que se deu em 1996. Os garimpos artesanais, em viés de historicidade, passaram pela descoberta, ascensão, apogeu, glória e declínio até o ostracismo do garimpo manual, daí vieram os garimpos mecânicos ou predatórios.

Os garimpos mecânicos ou predatórios, por cobiça e impactos ambientais restaram interrompidos, sendo os garimpeiros artesanais, no final confundidos com os dragueiros, incompreendidos e criminalizados. A mulher também foi garimpeira, à exemplo de Chica. Entre 1845 até 1996, os garimpeiros artesanais e suas famílias influenciaram quase 2 (dois) séculos do modo de ser, criar, fazer e viver do povo nesta Chapada do Sertão, uma vereda do Brasil profundo.

A Chapada Diamantina é considerada uma das maravilhas do Mundo, e a cidade de Lençóis, como Vila que aglutinou os principais achados de diamantes tornou-se o ajuntamento mais destacado. No final dos garimpos, devido ao garimpo predatório, com as dragas a motor, a consciência ambiental da ECO92 e a negligência do Governo do Estado da Bahia aos valores culturais das Lavras Diamantinas, os trabalhadores garimpeiros restaram desprezados.

Inclusive, a Emenda Constitucional número 20 de 1998, retirou dos garimpeiros a condição de segurados especiais da previdência social, ao lado de trabalhadores rurais e dos pescadores, deixando centenas de famílias garimpeiras das Lavras Diamantinas da Bahia a própria sorte, sem quaisquer benefícios previdenciários a partir de então, como forma de desestimular os garimpos, abrindo espaço, apenas, para as grandes mineradoras, que assumiram o monopólio do “mercado”.

Na cultura, as expressões, ou seja, os modos de ser dos trabalhadores artesanais, tem marcas insuperáveis, que influenciam o modo de falar (sotaque), vestir (moda), comer (culinária), pensar (literatura) e tudo isso forma uma infinidade de valores que permeiam imagem, imaginação e imaginário. De Lençóis para o Mundo, vem um dos principais cineastas e roteiristas da América Latina, Orlando Senna, que ao lado do conquistense Glauber Rocha e outros artífices da cultura, fizeram o movimento Cinema Novo, na segunda metade do Século XX.

Neste ano de 2021, devido a PANDEMIA da Covid19, talvez pela primeira vez desde 1852, o culto secular ao Padroeiro dos Garimpeiros de Lençóis não acontecerá como nos outros anos. A apreensão toma conta de pessoas mais antigas na cidade de Lençóis, em imaginar que a imagem do Padroeiro Senhor Bom Jesus dos Passos não cruzará a ponte central, em que muitas pessoas carregam a crença de que isso é sinônimo de mal pressagio.

Tomara que possamos superar mais essa dificuldade. A canção dos Garimpeiros (Hino de Lençóis) e o hino devocional dos Garimpeiros a Senhor Bom Jesus dos Passos são emocionantes a toda pessoa que verdadeiramente aprecia um banho nas águas do Rio Lençóis. Em Lençóis as baianas enfeitadas costumavam lavar e cantar em conjunto dentro da Igreja da Terra dos Diamantes, onde nasceu o filho do Rei de Oió, que corresponde a parte dos territórios Benin e Nigéria atualmente, Dom Obá, o Príncipe do Povo, e os passeios da Praça das Nagôs é o ponto de encontro para conversa de Pau de Anu.

O Candomblé de Caboclos local, originalmente etnográfado nas letras do antropólogo e Professor Emérito Ronaldo Senna resiste a toda mudança de época, em que o Jarê permanece a ser procurado e os Pais de Santo ou Curadores de Jarê, cuidam de averiguar a sorte dos passantes. Se este ano a PANDEMIA atrapalhou, é preciso ter fé e manter-se vivo na esperança, para que no próximo ano a nossa sorte seja outra e todas as pessoas filhas e amigas de Lençóis possam reencontrar a Novena e Festa ao Santo Padroeiro felizes e com saúde.

Por trás de um garimpeiro manual tinha sempre um capangueiro a lhe explorar. O garimpo foi um jogo de sorte ou revés, mas os garimpeiros ao bamburrar, só cuidaram da fé e das famílias, certo que alguns gostavam de beber e namorar. A Rua das Pedras está lá para não deixar ninguém mentir. Mas é importante entender que os garimpeiros artesanais das lavras diamantinas são os primeiros ambientalistas do Brasil profundo, pois as serras e as águas dos rios, em sua maioria, estão íntegras até hoje para quem quiser ver, ter o dever de preservar e conservar.

“Lençóis deve tudo aos garimpos, mas os garimpos não devem nada a Lençóis.”

A cidade e região precisam de sistemas municipais de cultura e meio ambiente funcionando, políticas de proteção e estímulo a preservação do patrimônio cultural e ambiental, com planos de gestão, manejo e uso das atividades da fraternidade (cultura, artes, desportos, lazer (turismo, parques, jogos), ciência, tecnologia e meio ambiente) para ampliação do potencial econômico de geração de emprego e renda.

Chapada Dimantina-BA, 23 de janeiro de 2021.

*AGUIAR, Alexandre A. – Advogado baiano, previdenciárista, ativista cultural, ambiental e pela sustentabilidade, cidadão conquistense, amigo de Lençóis e da Chapada Diamantina, Garimpeiro de Sonhos.

1 resposta para “Sublimação de axé na lavagem dos garimpeiros de Lençóis”

  • Bira Mota says:

    Um texto escrito por quem conhece a história do garimpo de diamantes e carbonatos e a história de Lençóis…

    (…) “são os primeiros ambientalistas do Brasil profundo, pois as serras e as águas dos rios, em sua maioria, estão íntegras até hoje para quem quiser ver, ter o dever de preservar e conservar.” (…)

    Isso porque os garimpos mecânicos ou predatórios foram interrompidos. Do contrário, a devastação das margens e leitos dos rios de Lençóis, Andaraí e outros teria provocado paisagens aterradoras…

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alessandro tibo


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