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Por J Rodrigues Vieira**

Sobre a crise em torno da pandemia do novo coronavírus, em seu pronunciamento, quarta-feira, 8 de março, o presidente Jair Bolsonaro repetiu textualmente uma frase dita pelo presidente dos EUA, Donald Trump: as consequências do tratamento não podem ser mais danosas que a própria doença. Tantas vezes, se colocando numa inferioridade voluntária, o presidente tem verdadeira veneração por tudo que é estadunidense, sem conseguir disfarçar o fascínio por uma realidade que só existe no sonho superficial daquele país.

Quem não se lembra da continência prestada à bandeira e a tentativa forçada do presidente em indicar o filho Eduardo Bolsonaro para embaixador nos Estados Unidos. Ainda que, sem legalidade e legitimidade, a evidente falta de qualificações técnicas de seu filho seria uma histórica vergonha para diplomacia brasileira. Mas, a razão desceu sobre o congresso que o impediu de lastimável ato. No entanto, o presidente Bolsonaro insiste e parece não perceber que sua adulação à Donald Trump, nos põem numa situação subalterna vexatória perante o mundo. O desejo quase fetichista de sua família, finge desconhecer o Imperium in império: a máquina política extremamente profissional dos Estados Unidos; máquina movida com muito sorriso no rosto e desprezo no pensamento.

Em seu terceiro pronunciamento acerca do assunto, apesar da mudança de tom, quanto ao combate à COVID-19, Jair Bolsonaro insiste em minimizar os efeitos da pandemia, mesmo que tantas mortes tenham ocorridas. É possível notar, ainda, resquícios de negação em suas expressões. Talvez, também literalmente, o negacionismo do presidente seja uma forma de escapar da verdade desconfortável. Quando repete falas de Trump, Bolsonaro parece não ter deixado o palanque e sua fórmula de campanha, elaborada para atacar inimigos ideológicos e políticos (leia-se agora, China). Apesar de não haver evidências científicas suficientes, ao exaltar o uso da hidroxicloroquina, um remédio para a artrite reumatóide, ele repete o presidente estadunidense. Talvez, como se nos mostra, ventríloquo, Bolsonaro nada saiba sobre a Pharmaceutical Research and Manufacturers of America (PhRMA), indústria farmacêutica que tem entre os seus membros a Novartis, a Teva e a Bayer. Ou, talvez saiba. Nós é que não sabemos…

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J Rodrigues Vieira é ficcionista, membro da UBE – União Brasileira de Escritores, autor de 9 livros. De Itarantim, aqui no Agito Geral, a partir de suas percepções, fará observações críticas em análises reflexivas sobre as dúvidas e os questionamentos possíveis, acerca da realidade articulada na interação social brasileira.