Tia Nem

Por Maria Reis Gonçalves

Realmente, a cada dia fico mais pasma e, juro por todos os deuses do Olímpio, que nem acredito, que mesmo com o surgimento dos meus cabelos brancos, eu ainda sigo tentando falar de coisas tão básicas, como o fato de que nós, mulheres, somos seres humanos e não uma mercadoria, nem uma decoração, não somos objetos, nem brinquedos, efalo sério. Será, mesmo que vá ser necessário desenhar. Essa semana, eu paguei uma cerveja para um amigo, e em nenhum momento eu me sentir proprietária do corpo dele ou mesmo que ele deveria me dar algo em troca. Bebemos, conversamos sobre várias coisas, rimos muito e nos tratamos como dois seres humanos. Foi fácil, muito fácil, pois, tanto eu quanto o meu amigo, sabemos que gentileza não é escambo e que cada um de nós, somos donos do nosso corpo e da nossa vontade.

Pode parecer estranho, o que eu estou falando, no entanto, sabemos que existem muitos homens, e que conhecemos, que ainda não chegaram a essa compreensão superior. E, por incrível que pareça, nem sempre notam o quanto esse tipo de comportamento é totalmente grave, pois, estamos mais acostumadas a observar os comportamentos extremamente violentos contra às mulheres. Porém, existem caras que acham que à amizade é um caminho para fazer sexo, e pressiona por ter pago uma bebida, um café, um suco, um almoço e se acham no direito de insinuar uma intimidade maior. Ontem eu li dois textos da britânica Laurem Crouch, ela tem um blog, e nele fala dos seus encontros. Li, por curiosidade, pensando em encontrar uma leitura engraçada, no entanto, foi algo assustador e bem pernicioso.

Ela conta que saiu para tomar um café com um homem que conheceu no Tinder e que o assunto rolou normal por cerca de meia hora. Então ele tentou convencer ela a ir jantar na casa dele, onde ele cozinharia. Ela recusou, pois, havia acabado de conhecer o cara e não se sentiu confortável. Então eles se despediram e, no outro dia, ele mandou mensagens propondo um novo encontro, ela recusou polidamente, ele insistiu, novamente propondo cozinhar um jantar para ela. Ela novamente recusou polidamente, ele pediu de volta o dinheiro que gastou pagando o café dela. Em tradução freestyle: “Beleza, justo. Tu podes me reembolsar pelo teu café? Eu não gosto de desperdiçar dinheiro. Prefiro usar em um encontro com outra pessoa”. Foi o recado que ela recebeu.

Isso pode não acontecer frequentemente, mas muitos desses caras que costumam sair com mulheres que não dão “mole”, bem que gostariam de fazer o mesmo. Para esse tipo de homem, sair e gastar com uma mulher, é investimento, eles não nós vêm como iguais, porém, como algo que ele pode usufruir. A esse tipo de comportamento, não podemos chamar de gentileza, mas sim, um projeto de compra. O pior, em situações dessa, é que o sujeito pode ficar agressivo, quando rejeitado, porque acha que as mulheres são inferiores e ele, o grande “men”. Os homens precisam entender que a sexualidade/afetividade, não é uma transação bancária. É algo maior do que entende a sua vã mentalidade machista.

Precisamos reconhecer os homens que simulam gentileza, sempre esperando algo em troca. São esses caras, que devemos reconhecer de longe, e evitarmos a todo custo, pois, são perigosos e fazem de tudo para conseguir o que querem, e quando conseguem, tratam as mulheres como objetos, algo a ser descartado. E para mim, esse tipo de comportamento, não passa de cultura de estrupo. No entanto, muitos desses caras legais, só se revelam nas frustrações, pois, ao receber um não, ele passa de pessoa maravilhosa, a ser quem realmente é. O que podemos falar a homens assim, é que o mundo não deve nada para eles e nem nós mulheres devemos nada a eles. Não devemos tirar o foco desse tipo de comportamento, pois, não é uma besteira, mesmo se alguém falar que é uma coisa simples, na verdade, é uma violência, e não aceitamos, o que exigimos é respeito mínimo, em qualquer situação, nada mais, nada menos que respeito.