nando da costa lima

Por Nando da Costa Lima

Apesar de já terem passados mais de cinquenta anos, eu lembro como se fosse hoje “dotô”, era julho e o frio daquele ano tava de matar, até quem era da terra não estava suportando a friagem. O Sr. e seu colega chegavam a bater o queixo quando o vento entrava pela capota do Jeep, a professora que vinha de carona não sabia se tremia ou se fazia pose pra vocês. Ela estava indo pra ocupar uma vaga no recém-inaugurado ginásio da cidade. O Sr. e o outro Dr. faziam uma dupla diferente, falavam mais que político. Eu pensei que médico conversasse menos! A professora falava tão difícil que eu não entendia quase nada, ela chamava carteiro de estafeta e motorista de cinesiforo, até hoje eu não descobri se era latim ou “ingreis”. Mas foram vocês que atiçaram a moça, foram logo dizendo que eram solteiros, tavaestampado na cara dos dois a vontade de passar uma noite com aquela formosura. O entusiasmo aumentou quando vocês pararam no bar de dona Noca pra beber uma jurubeba. Seu amigo fez questão de conferir a garrafa pra ver se era da legítima Leão do Norte, e você como todo baixinho invocado tomou duas garrafas, ficou mais conversador que novo rico dando bronca num subalterno. Mas é isso! Pra conquistar aquela flor tudo era normal. Enquanto “nois bebia” a professorinha comeu um tira-gosto de bucho de bode e almoçou uma feijoada “compreta”, de sobremesa comeu duas bananas e rebateu com um copo de leite pra evitar enjoo. Deolinda gostou tanto do leite de cabra que acabou provando do doce e do queijo. Eu nunca vi um apetite daquele, só não comeu a tigela de doce toda porque o dotô interferiulembrando que não fazia bem viajar de estomago cheio. Nós acabamos de beber e pegamos a estrada…

No meio de uma ladeira Deolinda bateu no seu ombro e falou sem perder a classe – “Sr. cinesiforo faça o favor de encostar o auto na lateral da rodovia, pois a refeição abundante deixou-me com uma ligeira vontade de defecar”. Já desceu do jeep peidando… Só deu tempo de atravessar o mata burro e se aliviar na primeira moita, nós esperamos mais de meia hora, eu já estava cochilando quando Deolinda deu o primeiro berro, quando corremos pra ajudar ela estava nua, se arrastando no cascalho e puxando os cabelos, gritava mais que uma condenada, a coitada se limpou com folha de cansanção. Perdeu toda a classe! Nunca mais vi a cara da professorinha, deve ter voltado pra capital dali mesmo, nem acabou de chegar ao destino. Também depois de ter se “arreganhado” pra gente daquele jeito, será onde que anda aquela eguinha, eu nunca esqueci aquele par de coxas, o Sr. lembra Dr.??? O Dr. octogenário olhou pro vaqueiro que na juventude pegou carona no seu jeep, uma passagem já quase apagada na memória, e falou sorrindo – “Aquela eguinha vai muito bem, deu cria a vários filhos meus e até hoje ajuda a criar nossos netos”. O velho vaqueiro tirou o chapéu de couro e falou escabriado: “É dotô, descurpa eu não vou nem pedir, pois sei que o senhor entendeu minha falha. Eu lembro até que no dia que aconteceu aquilo o Sr. mesmo disse pra mim ‘Não comente isso com ninguém, quem conversa muito dá bom dia a cavalo.’ E deu pro Sr. notar que eu esqueci o seu sábio conselho, é a idade.