nando da costa lima

Por Nando da Costa Lima

Ele há mais de dez anos vinha cercando um extraterrestre, depois que aquele pessoal do sul garantiu que naquele local (sua roça) era bem mais fácil o contato com seres de outros planetas, o homem ficou impressionado. Não tirava da cabeça a possibilidade de capturar um E.T., vender pros americanos e provar praquele bando de ignorantes que vivia lhe criticando que nada era impossível. No início sua mulher quase endoida, o marido passava o dia procurando pistas que o levasse aos extraterrestres. Mas depois até gostou, a invocação do marido servia pra despistar os vacilos dos namorados, Neusinha quase todo dia tinha um contato de primeiro grau e Tenório já tinha visto muito E.T. sair pela janela só de cueca. Infelizmente nunca tinha alcançado nenhum, é que a pinga não deixava! O homem gostava de álcool na mesma intensidade que gostava de disco voador, tava tão obcecado com essa história de E.T. que não adiantou nem seu pai lhe explicar que os extraterrestre que perseguia eram todos amantes de sua mulher. E assim ia passando os dias do casal: ele correndo atrás de disco e ela transando com quem aparecesse.
Um dia a roça de Tenório amanheceu cercada de gringos. É que um grupo de especialistas em OVNI’s achou que fariam um contato de 1º grau justamente naquele local. Aquilo pra Tenório foi um delírio, matou até um bode pro pessoal e fez questão de mostrar que era o grande especialista em disco voador da região, os cientistas já estavam de saco cheio daquela prosa, mas como era o dono da roça onde certamente a nave desceria, o jeito era suportar aquele corno cachaceiro contando as carreiras que já tinha dado em extraterrestres. Se estava ruim para os gringos, pra Tenório era a melhor fase de sua vida, tava tão alegre que até vaga-lume ele confundia com disco voador… No terceiro dia tinha gringo que não podia ver um bode que já saía vomitando, aí ele resolveu matar uma leitoa, e foi esse ensopado de leitoa que fez os gringos dormirem no ponto… Quando deu seis horas tava todo mundo roncando, só Tenório escutou aquele barulho vindo da roça de café do vizinho, atravessou a roça de milho e pulou para o cafezal sabendo que tinha algo estranho ali. Primeiro viu só uma fumacinha, mas quando se aproximou uns dez metros é que teve uma visão mais nítida do E.T. : media mais ou menos um metro e meio, estava todo de cinza, usava máscara e mochila de um material diferente, e toda vez que se movimentava aspirava um gás direcionado. Tenório, apesar do medo, sentiu que aquele era seu dia, se pegasse aquele E.T ia se vingar daquele pessoal que vivia lhe chamando de doido. E foi com muita cautela e um laço especial pra amarrar extraterrestre que ele se aproximou do E.T.. Quando o bicho se virou, ele atacou. Primeiro deu um soco no estômago, quando o marciano caiu ele meteu o pé na cara, este já levantou dando pancada. Tenório deu mais duas cacetadas no bicho que ele caiu pronto, aí só foi amarrar, levar pra casa e trancar num quarto… A notícia da prisão do marciano se espalhou rapidamente, meio-dia sua casa já estava cheia de curiosos. Tenório não mostrou o E.T. nem pros gringos. Só mostrava depois que o prefeito chegasse com o representante do governo pra registrar o acontecimento que marcaria época na história da ufologia.
E na hora que Tenório saiu de dentro do quarto com o E.T. amarrado, dando chute na bunda pra criar mais clima de aventura, teve até gente que bateu palma. Mas seu tempo de herói foi curto, quando o pessoal ainda se refazia do susto de ver um extraterrestre cara a cara, um fazendeiro berrou lá do meio: “Que E.T. que nada, esse aí é o japonês que veio demonstrar como se usa um novo tipo de agrotóxico em minha roça de café. Esta roupa esquisita e a máscara são para evitar envenenamento, o produto é muito forte, já intoxicou metade dos trabalhadores da fazenda, o coitado não fala um ‘A’ em português!”.
Desse dia pra cá nunca mais se teve notícia de Tenório, deve ter “se picado” num disco voador.