nando da costa lima

Por Nando da Costa Lima

– O senhor entendeu errado, seu Miguidônio, eu não quis falar que o senhor era especialista em puteiro, eu só disse que o senhor sabia tudo sobre os puteiros do passado de Vitória da Conquista.
– Mas eu sei porque sou um estudioso do assunto, e eu só cheguei a frequentar o Magassapo e a Mamoneira. A Moranga eu só sei que existiu porque meus tios falavam sempre. Tinha um bar de um sujeito que era conhecido por Javanês. Não sei se ele era da ilha de Java, ou se assumiu a cidadania inspirado no conto de Lima Barreto. Ou até se foi um apelido dado pelos frequentadores da Moranga. Isto fica difícil de precisar porque na região do Planalto é pessoal é muito espirituoso. Às vezes já colocam o apelido pra confundir quem chega… Então, para o senhor não achar que eu fui um frequentador assíduo dos puteiros de Conquista, eu vou lhe contar um caso que aconteceu na Moranga. Como você sabe, é como se fosse uma trilogia: Moranga, Magassapo e Mamoneira. Foi numa época do concurso de Miss Brasil, tava sendo a bola da vez. O Cruzeiro, Manchete, todas as revistas da época só noticiavam esse concurso. Isso sem falar do rádio que ia cobrir o evento e transmitir pra todo canto. Nesse clima, Toni Turco, que era amigo do javanês do bar, resolveu quebrar a monotonia criando um concurso de beleza com as mulheres da Moranga. Teve até urna pra escolher a melhor.
– E quem ganhou esse concurso de beleza, Miguidônio?
– Ninguém! A notícia da tal votação pra escolher a “Puta do Ano” se espalhou pela cidade, as senhoras casadas não gostaram nada… E por isso, no dia do concurso do Turco, numa sexta feira, todas marcaram os maridos corpo a corpo. Não davam uma folga, teve até quem inventou uma viagem só pra tirar o marido daquela afronta contra a sociedade. “Por que eles não vão fazer essas merdas na terra deles? Junta um turco e um javanês pra desmoralizar o concurso de Miss Brasil e fazer as senhoras da cidade passarem um vexame”. Pois é claro que se não fosse pela interferência delas, os maridos marcariam presença no “evento do ano”, que poderia até virar moda… Naquele tempo o povo era muito “raparigueiro”. Segundo meu tio, já tinha uma novilha cedida pelos fazendeiros, e os comerciantes dariam um radinho “consola corno”. Era pro 1º e 2º lugar do concurso. Mas como eu disse, as donas de casa jogaram um balde de água fria na brincadeira, ninguém pôde comparecer devido a “forças ocultas”…. Só quem ganhou foram as meninas da Moranga. É que a novilha do prêmio foi abatida e distribuída entre as moradoras da Moranga. Quanto ao radinho de pilha, este foi o motivo que abalou a amizade dos dois boêmios: o rádio sumiu! Uns dizem que foi o javanês que pegou pra presentear uma amante, outros falam que Toni perdeu o rádio num jogo… Pra você saber a verdade fica difícil. Até o concurso “Miss Puteiro” tem gente que acha que ocorreu no Magassapo.
– Tá bom, seu Miguidônio, o que o sr. Relatou agora já fica registrado e publicado. Isto se for verdade…
– Ô seu jornalistazinho de bosta, você acha que eu ia sair das “Três Janelas” (o último brega de Conquista) pra vir jogar conversa fora pra macho? Tá se fazendo de besta? Todo mundo de Conquista sabe que Miguidônio Madrinheiro nunca mentiu, só conta história com H…