Dê descanso ao seu domingo
Por Edvaldo Paulo
Antes de começar uma reunião do CFC – Conselho Federal de Contabilidade, em Brasília, estava conversando com meu amigo Cesar Buzzin sobre as nossas rotinas do dia a dia, alguns costumes e vícios que nos tornam meio mecânicos. A nossa discussão versava sobre a quantidade de atividade que desempenhávamos. Chegamos à conclusão de que precisamos dar descanso aos nossos domingos e feriados.
Sempre vejo as pessoas questionarem outras – o que fez no domingo? – Alguns respondem com um ar de fracasso dizendo que nada fez. Outras já dizem terem realizado várias atividades. Quem é vitorioso? Quem nada fez ou quem muito fez? Para mim, o que muito fez talvez goste de chegar à segunda-feira estressado, cansado para a suas atividades da semana; já eu prefiro o ócio.
Por que Deus, ao fazer o mundo, descansou no domingo? O que significa descansar? Pelo meu entendimento, é nada fazer. É relaxar, gastar o tempo com coisas de que gostamos mas, principalmente quando estamos a fim de fazer.
O Rabino Nilton Bonder, num belíssimo texto sobre o assunto, diz:.
As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado… Quem tem tempo não é sério, quem não tem é importante. Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos. Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é um interrupção.
O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair: literalmente, ficar desatento; é uma atenção – de ser atencioso consigo e com a sua vida.
A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é: o que vamos fazer hoje? –Já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de domingo. Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande “radical” livre que envelhece nossa alegria – o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.
Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada.
A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.
Afinal por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada seja dá-lo como concluído”.
Tenho o domingo como um dia meu. Não faço nada que não quero. Não faço nada que não esteja a fim e em que não esteja embutida uma imensa agradabilidade. Se és meu amigo e tens um convite para o domingo, não precisa esconder de mim, sabe qual é a minha resposta? Não estou a fim. Geralmente são quatro domingos no mês e eu tiro esses quatro ou cinco domingos como meus dias. Não os dou, não os empresto a ninguém. SÃO MEUS! Quem tem seus compromissos não me inclua porque não vou cumprir.
Nesses domingos, faço o que eu quero, na hora que eu quero, do jeito que eu quero e na velocidade que quero. Esqueça-me no dia de domingo. No domingo, aproveito para ser só eu.
Domenico De Masi em sua obra “L`EMOZIONE E LA REGOLA”, (editora UNB José Olympio, 6ª edição) diz que nós, seres humanos, só pensamos e desenvolvemos mais ideias quando estamos inteiramente despreocupados e relaxados. Quando Domenico assume algum trabalho de reestruturação de uma empresa (e ele o tem feito em grandes empresas), a sua primeira atitude é mandar os executivos limparem as mesas e irem cedo pra casa. Trabalhar menos e pensar mais. Domenico, em sua carreira e com suas teorias, é um sucesso no mundo inteiro. Como exemplo, Domenico diz para irmos às ilhas gregas e ficarmos de papo para o ar ao menos três meses do ano. Quem sou eu para contrariá-lo?
Existem pessoas que se vangloriam por ter precisado trabalhar o domingo, eu me vanglorio por nada ter feito. Passei o domingo com um bom calção, camisa polo e uma sandália de arrasto, e fiquei de papo pro ar. Ainda brinco com meus amigos: – “estou doido que o mar pegue fogo para eu comer peixe assado”.
Se tartaruga corresse, duraria 300 anos? O mestre Dorival Caimmy, de saudosa memória, é conhecido como o rei da preguiça. Viveu mais de 90 anos e ainda brincava – “quando estou descansando e me dá vontade de trabalhar, deito em uma boa rede e fico lá, até a vontade passar”.
Claro que precisamos trabalhar. É através do trabalho que buscamos conquistar os objetivos, mas precisa de tanto stress? Se Deus, que é infinitamente grandioso, descansou no domingo, quem sou eu para contrariá-lo.
Dê descanso ao seu domingo. Pare e aprenda a ser você. Aprenda a fazer coisas simples, como pisar no chão descalço, chupar picolé, tomar um bom sorvete, sentar num banco de jardim, apreciar os murmúrios dos pássaros e das árvores, ou então ficar de papo para o ar sem fazer nada. Afinal, o domingo é para isso mesmo.
O grande Chico Anísio, em entrevista ao Jô Soares, com sua sapiência, deu alguns exemplos maravilhosos. Citou algumas pessoas de 90 anos, vivas, lúcidas e provou que essas pessoas nunca viveram a vida com stress, correndo, ou seja em uma atividade frenética. Gosto do meu povo baiano e seu jeito maneiro e alegre de viver.
Dr. Mariano, presidente de uma grande instituição financeira, meu amigo, foi para uma reunião em Salvador e saiu atrasado para pegar o seu voo. Ao entrar no taxi disse ao motorista que estava atrasado para ele dar “uma puxadinha”. Dr. Mariano perdeu o voo e, ao arguir ao taxista por que ele não andou mais ligeiro, o sábio homem lhe respondeu: – “sabe, doutor, os únicos caras que ganharam dinheiro correndo foram Pelé e Emerson Fitipaldi”. Dr. Mariano entendeu a mensagem. Se você está com pressa, o problema é seu, mas saiba o que isso lhe custará no futuro.
Delicia de texto.Feito com efeito reparador.
Amo meus dias de descanso e os realizo em paz.
Quem faz do descanso cansaço é problema do outro.
Tranquilo texto no qual me identifiquei.Bravo Bravíssimo!
Muito rico e verdadeiro