Ontem foi a despedida do nosso amigo Hermann Prates. Entre lágrimas, palavras e sorrisos, os seus familiares o levaram à última morada terrena. Dias atrás, sua neta Luana já o deixava voar.

Ontem, dia 11 de julho, no final da tarde, familiares e amigos conduziram o corpo do senhor Hermann Holman Gusmão Prates para o Cemitério Parque da Cidade. Antes disso, na Loja Maçônica União e Liberdade, aconteceu o velório, onde todos que puderam estar presentes fizeram belíssimas homenagens, com falas, sorrisos e também com lágrimas — até porque era difícil contê-las. Afinal, ali estava se encerrando o relacionamento fraterno, humano, presencial entre um esposo, pai, avô, irmão, tio, genro, sogro e também amigo.
Todos sabiam que ele fará falta — e não poderia ser diferente, diante de tanto tempo de convívio caloroso e que o tempo não fará ninguém esquecer.
Seu Hermann partiu. Deus o chamou para junto de Si, por mais que todos quisessem que ele ficasse um pouco mais junto de nós.
Uma coisa é certa: a família soube atender ao seu desejo. Ele pediu para que, em sua despedida, tocassem músicas — e assim foi feito. Lindas canções se ouviam naquele ambiente de paz. Sim, vimos lágrimas, mas não desespero.
Ainda não aprendemos a nos separar de quem precisa partir. A gente não quer soltar a mão, ou, se pudéssemos, iríamos juntos.
No meio dessa incerteza — desse, talvez, egoísmo — uma das netas de Seu Hermann, Luana, enquanto ele estava no leito do hospital, quebrou o silêncio e convidou os familiares para uma reflexão, que servirá de lição para todos nós.
Segue na íntegra, as sábias palavras da querida amiga:
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“Pensei em falar sobre a brevidade da vida. Mas talvez o ideal seja falar sobre a relatividade da brevidade.
Quando se trata de uma vida de 92 anos, dizer que foi breve talvez soe estranho!
Foram 92 anos muitíssimo bem vividos!
Um casamento de mais de 60 anos. 6 filhos + 1! 13 netos! 2 bisnetas! Sobrinhos e agregados incontáveis!
Não dá pra dizer que sua vida foi breve!
Foi bancário. Professor de História e Geografia. Quase um arquiteto, diante das maquetes que fazia. Pintor. Pedreiro. Paisagista. Jardineiro. Teimoso. ‘Arrancador’ de dentes de leite. Dermatologista (queimando ‘as perebas’ com prego quente). Um verdadeiro faz-tudo!
Não dá pra dizer que sua vida foi breve!
Viveu a Segunda Guerra Mundial. Viveu (e sobreviveu) à ditadura.
Não dá pra dizer que sua vida foi breve!
Contador de histórias como ninguém!
Contador de piadas como ninguém (sempre ria antes do fim! Sua risada, com os ombrinhos balançando, era sempre mais engraçada que a própria piada).
Não dá pra dizer que sua vida foi breve!
Foram 92 anos! Quase um século!
Não… definitivamente, não dá pra dizer que sua vida foi breve!
Mas, no fundo, a sensação que fica é essa mesmo: foi breve!
Uma queda.
Inúmeros ‘se’.
Mas ‘e se…?’ não existe! Aconteceu como tinha que ser…
Não existe culpado — nem mesmo ele!
Não existe nada que alguém pudesse ter feito para que fosse diferente!
Foi como tinha que ser!
Há um mês ele estava reunido com todos os filhos! Presságio? Despedida? Não tem como saber!
Foi como tinha que ser!
Quando o fio da vida vai afinando e está prestes a se romper, a vontade é agarrar com unhas e dentes e puxar, segurar, emendar…
Tal qual um cabo de guerra.
De um lado, a vida.
Do outro lado, a morte (o fim ou o início de tudo?).
De qual lado do cabo de guerra você está?
A que custo vale manter uma vida?
Aliás, o que é ter uma vida?! Ficar deitado em cima de uma cama, sem qualquer tipo de percepção do que acontece ao seu redor… é vida?
Qual o custo de um apego?
“Apego, não quer ir embora! Diacho, ele tem que querer…”
Quanto custa um egoísmo?
Quanto custa uma imaturidade?
Quanto custa não saber colocar em prática anos de estudo da doutrina espírita?
Quanto custa a sua vontade?
Foi breve desde o dia 13/06 até hoje!
Mas do dia 28/12/1933 até hoje, não foi breve!
Foram 92 anos muitíssimo bem vividos!
Entre erros e acertos. Entre choros e risos. Entre amor… e muito amor!
Foram 92 anos muitíssimo bem vividos!
A dor é inevitável. A saudade é inevitável.
Mas o egoísmo não!
Mantê-lo a qualquer custo… é pra satisfazer a quem? É a vontade de quem?
Cada dia que passa, um pouquinho dele vai…
Cada dia que passa, um grãozinho de areia da ampulheta desce.
Não adianta tentar virar a ampulheta ou afunilar ainda mais sua passagem!
A areinha precisa continuar caindo e o fim está se aproximando!
É preciso soltar, deixar que ele siga seu caminho…
A dor é inevitável. A saudade é inevitável. Mas o egoísmo não!
Despeça-se!
Deixe que ele faça sua passagem!
Honre sua memória!
Honre seus ensinamentos (os que fazem sentido).
O amor que vai ficar também é inevitável!
E é inesgotável! Inapagável! Insubstituível!
Despeça-se!
Diga que o ama!
Diga o quanto sentirá sua falta!
Diga que ele não precisa ter medo, que ele pode ir!
Diga que o ama!
Perdoe, se precisar perdoar!
Peça perdão, se precisar pedir!
Peça que os espíritos de luz tomem conta e o acompanhem!
Diga que o ama!
Diga que tudo aqui vai ficar bem — com ele, e por aqui também!
Diga que o ama!
Mas deixe que ele vá. A sua hora chegou.
Foram 92 anos muitíssimo bem vividos!
‘Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado;
Compreender que ser compreendido;
Amar que ser amado;
Pois é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado,
E é morrendo que se vive para a vida eterna.’”

























