O desprezo de Regina Duarte para com as perdas de Moraes Moreira, Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Roza: artistas de inegável importância na cultura nacional
* Por J Rodrigues Vieira
Nesse tempo o qual temos a clara necessidade de lermos a realidade indecisa de uma crise, em meio a vertiginosa rapidez da expansão do novo coronavírus, algumas figuras iluminadas que não nos permite viver alienados no tempo em que existimos, nos deixaram nos últimos dias: Moraes Moreira, Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Roza.
Em sua liberdade artística, Moraes Moreira tinha orgulho de sua baianidade e brasilidade, se tornando um dos maiores compositores da Música Popular Brasileira, cantando as alegrias e as mazelas de um povo em formação; Rubem Fonseca era um profundo conhecedor do submundo carioca e suas figuras icônicas que se reproduzem como herdeiros de uma sociedade injusta; Luiz Alfredo Garcia-Roza enveredou-se pelos romances policiais, com temas recorrentes ao tráfico de drogas e violência, dando relevo a uma narrativa de dramas pessoais mal-resolvidos.
O jogo de ideias através da palavra me fascina. Talvez, eu seja mais um leitor de literatura do que propriamente um escritor ficcionista. Na percepção de mundos imaginados e acontecidos em meus cadernos de aprendiz literário, não posso deixar de reconhecer as influências de Moraes Moreira, quando adolescente, vivi a mística e efervescente Salvador dos anos 80; de Rubem Paiva, quando a professora Artêmis, nas frias noites paulistanas no início dos anos 90, me fez descobrir e mergulhar no prazer da leitura; e ao tomar contato com a ficção policial de Luiz Alfredo Garcia-Roza, nas oficinas literárias da Escola Panamericana de Artes.
É lamentável as perdas de tais artistas, figuras de inegável importância na cultura brasileira. Os governos estaduais da Bahia, São Paulo e Minas Gerais divulgaram notas de pesar. No entanto, porém, isso parece nada significar para a Secretaria Especial da Cultura, órgão do Ministério do Turismo responsável pela formação de políticas, programas e projetos de promoção da cidadania por meio da cultura, que — lamentavelmente — não emitiu nenhuma satisfação.
O silêncio da secretária Regina Duarte nos deixa parecer que ela não se comoveu com as perdas e, por consequência, ainda jogou fora seu discurso de posse, onde ressaltou ser a cultura de um país: sua alma, seu passado, seu presente, seu futuro. Sendo assim, como bem lembrado noutro artigo: Regina Duarte é o fiel retrato da personagem oficial que se propôs ser, incorporada, inconscientemente, na viúva Porcina; aquela que foi sem nunca ter sido.
**J Rodrigues Vieira é ficcionista, membro da UBE – União Brasileira de Escritores.