nando da costa limapor Nando da Costa Lima

Esse causo ocorreu quando Conquista ainda tinha Micareta… Por sinal a melhor da Bahia. Mas tudo tem seu tempo. Agora nosso carnaval está voltando de uma maneira gostosamente conquistense. “Um pierrot apaixonado que vivia só cantando…”

Olavo não estava acostumado com esse negócio de Micareta, foi criado numa cidade do interior de Minas onde só se tinha notícia do Carnaval pela TV. Era filho único do suplente de deputado José Nôzim da Silva e tinham muito em comum, mas a parte que eles mais se pareciam era na ignorância, eram daqueles que achavam que tudo era coisa de “viado”. Seu Nôzim chegou a mandar arrancar a orelha de um sobrinho que morava em “Sompaulo” só porque o rapaz usava brinco. Segundo ele, em terra que Nôzim pisava homem não usava brinco nem amarrava cabelo pra trás. O filho não fazia por menos, andava com um tesourão de tosar égua só pra aparar os cabelos dos cabeludos safados. Pai e filho eram idênticos fisicamente, ambos beiravam os dois metros e tinham orgulho de serem os únicos capazes de derrubar um bode com um soco. Eram realmente duas prensas, o símbolo de virilidade de Corgão Fundo! Todo menino queria crescer logo pra poder ficar forte como Olavão e muitas mulheres já tinham tentado o suicídio por causa daquele “homão”.

Era o orgulho do velho Nôzim que, apesar de ainda “dar no couro”, não podia mexer com a mulherada. Pegava mal pra um 3º suplente de deputado. Além do mais tinha dona Rosimar que não o deixava fora de alcance um minuto. Por isso as expectativas e sonhos do velho se voltaram todas pra Olavo, e este até o momento correspondia, não restava dúvida que era o macho do trecho. Isto até resolver vir passar a Micareta em Conquista… Aí a história de Olavo mudou totalmente… Chegou exatamente no primeiro dia, uma namorada comprou a fantasia dos “Essecutivos” e insistiu para que ele viesse, tava a fim de mostrar o “gatão de Corgão” pras amigas. Olavo quando apareceu chamou a atenção de todo mundo, deu logo porrada nuns quatro pra mostrar quem era. Mas a maior briga de Olavo foi quando mostraram a fantasia, aquele tal de “Abadá” ele não usava nem morto, era coisa de baiano fresco. Foi o jeito arrumarem uma mortalha (antecessora do abadá) pra ele se acalmar. Em pouco tempo tava cercado de amigos e principalmente amigas, a namorada já estava em segundo plano. No segundo dia de festa Olavão já tinha cantado metade das meninas da Pracinha, mas foi no terceiro dia que a cachoeira começou a correr pra cima, depois do meio-dia ele já estava dançando o “Requebra” sem música e queria porque queria saber onde o Olodum tava hospedado. Os amigos estranharam, mas depois acharam que era coisa de cachaça. Só depois que Olavão sentou no colo do tenente, deu um chupão num fiscal da prefeitura e correu a mão boba num pipoqueiro é que eles viram que o negócio era sério. O presidente do bloco só não o expulsou pra não ser chamado de homofóbico. Aí ele se sentiu protegido e soltou a franga ao som do Olodum, virou uma moça! O velho Nôzim que tinha comprado um camarote na Praça do Gil e vindo especialmente de Corgão só pra ver o filho desfilar “ferroando as pôtras” de Conquista, passou mal e teve que ser atendido às pressas, deram até massagem no coração do velho! Foi demais pra o suplente de deputado ver seu filho único dançando o “Requebra” pendurado no cangote de um timbaleiro e gritando a “todos os pulmões”: “Obrigado Olodum, você me libertou!”. E o pior é que toda hora ele fazia questão de levantar a mortalha até a cintura pra mostrar a calcinha que um “entendido” do bloco lhe emprestou. Segundo testemunhas, quando tocava o “Requebra” Olavo arrastava o “pilão” no chão com tanta energia que chegava sair faísca.

O velho Nôzim voltou pra casa arrastado. Sua primeira atitude foi proibir que o serviço de alto-falante de Corgão Fundo tocasse “Requebra” ou qualquer coisa desse tal de Olodum. E nunca mais Olavão apareceu na terra natal. Sumiu, nem os parentes sabem do seu paradeiro… Mas segundo João Melo hoje ele é um respeitado pai de família e mora aqui em Conquista na rua…