nando da costa limaPor Nando da Costa Lima

Vejo a vida como um imenso carnaval. Desde que haja entu­siasmo, não é preciso muita habilidade para entrar no ritmo. Os menos habilidosos nascem e morrem, só vivem! Os mais habilidosos continuam vivos mesmos depois da partida, são os pés de vailsa da vida, os que participam desse carnaval com tanta harmo­nia que acabam marcando, pessoas como Íris Geraldo Silveira, o pastor de estrelas, um homem que em 1933 já fazia jornalismo e poesia numa cidade que até hoje não assimila bem este tipo de coisa. Seu Íris era poesia vinte e quatro horas por dia, sua figura era a poesia materializada. Mas venho falar do contador de “causos” Íris Silveira, aquele que se sentia bem em fazer rir, e isto ele conseguia facilmente com histórias bem humoradas como esta que eu ainda menino escutei na casa do também jornalista e historiador Aníbal Lopes Viana.

Aconteceu numa cidadezinha perto da divisa de Minas, Genaro era filho único de um próspero casal de fazendeiros tipi­camente mineiro. A mãe criou o menino de um jeito muito es­quisito, o pai era tão desligado que só veio desconfiar da in­genuidade daquele homem de 23 anos depois que enviuvou, a mulher tinha inibido todos os instintos sexuais do rapaz, pra ele sexo não existia, era coisa do capeta. Depois que o velho notou a passividade do filho, passou a dedicar todo seu tempo ao rapaz, ele tinha que arrumar uma maneira de despertá-lo para o sexo. Começou contratando moças para dar em cima dele, mas de nada adiantou, toda hora que uma chamava Genaro pra dar uma roçadinha, ele corria em casa pegava a enxa­da e roçava todo o terreno. Geralmente as moças faziam estas propostas em terrenos baldios, ele já tinha roçado vinte e um, fora os jardins. O pai sentindo que daquele jeito não ia conse­guir nada, achou melhor tentar despertar o filho através do ca­samento, casando ele ia ter que “afogar o ganso” de qualquer maneira, era só enfiar em sua cabeça que depois de casado ti­nha que procriar senão ficava mau com Deus. O velho anali­sou bem todas as possfveis futuras noras, as candidatas tinham que perder no “teste da farinha”, queria uma mulher experiente. Depois de muitos testes, optou pela mais safada da terra, Migdônia já tinha servido de cobertor de orelha pra toda cidade, isso sem contar o pessoal que passava em viagem, seu pai ti­nha um “Dormitório Familiar” no ponto de ônibus. Mas era disso que Genaro tava precisando, além do mais, depois de ca­sada toda mulher conserta, ou pelo menos faz de conta. Antes do velho terminar de fazer a proposta ela já tinha aceitado, a primeira coisa que fez depois que o futuro sogro saiu foi desenforcar o S. António que há mais de dez anos estava pen­durado. Aquele casamento foi um verdadeiro milagre, logo ela, mais rodada que a Rio-Bahia na safra do boi, arrumar um ho­mem, rico e inocente, puro como uma criança. Com sua expe­riência de cama ele logo se tornaria um garanhão. O casório foi rápido, o velho tinha pressa de um neto. O casal mal teve tempo de se conhecer e foi essa a causa daquela tragédia que marcou a região, faz dez anos que isto aconteceu e até hoje Migdônia não se lembra nem do próprio nome, mas também não era pra menos, aquela cacetada dava pra matar um boi, não se sabe como ela resistiu. E o pobre do Genaro ficou sem entender nada quando o levaram preso, foi ela mesmo que implorou por aquilo, na hora que ficaram sozinhos no quarto a primeira coisa que fez foi ficar pelada e pedir insistentemente – “Me mata com aquele negócio de fazer xixi!” – ele não pensou duas vezes, meteu a mão em baixo da cama, pe­gou o pinico e deu uma cacetada tão violenta na cabeça da noiva que a piranha só foi acordar quatro dias depois, e olha que pinico de mineiro naquela época era de barro.

Tenho certeza que esse caso lhe agradaria bem mais se narrado pelo próprio Íris Silveira, mas como ele se foi, resta a mim lembrá-lo e aproveitar para mandar um recado: – Seu íris, o mundo está cada dia mais safado, e aquela tua Bíblia “envolta pela beleza eterna do perdão” nos faz muita falta. Quanto à justiça! Esta continua sendo aranha.