nando da costa limaPor Nando da Costa Lima

Milson quando se casou já foi na intenção de arranjar um filho, era apaixonado por criança. Não que fosse usar Risonete só para parir, muito pelo contrário, ele tinha verdadeira adoração pela esposa. Só que tinha mais de quatro anos que eles tentavam e nada de Riso engravidar, tava difícil, já tinham feito de tudo.

Foi mais de uma vez que ela levou a cueca do amor pra corrente dos pastores sem nunca obter resultado positivo. Ele por sua vez também fazia o possível, tentava todo tipo de “simpatia” que pessoal ensinava, chegou a costurar uma “caçola” de Riso na boca de um sapo… mas nada disso adiantou. Era aquela espera eterna. Teve um dia, por obra de Deus segundo o casal, que Riso apareceu realmente grávida. Dessa vez era pra valer, já tinha feito até exame, era certeza! O Doutor garantiu!

Passaram-se os meses… já era época de Riso parir, Milson estava mais nervoso que ela, foi o mês mais difícil de sua vida. Numa única semana ele a levou pro hospital doze vezes, qualquer dorzinha ela achava que tava na hora, coisa de marinheiro de primeira viagem! Tava de fazer pena, amarelo, magrelo, tomando um litro de conhaque e fumando uns três maços de cigarro por dia. Mas desta vez ela realmente sentiu que era naquele dia, não se sabe como ele conseguiu encaminhá-la para o hospital com toda aquela fraqueza.  Só deu tempo de entregá-la para as enfermeiras e desmaiar no banco da sala de espera, não que ele estivesse desmaiado de verdade, é que o cansaço de cinco noites sem dormir junto aos aperitivos (pra suportar a espera) fizeram-no cair em sono profundo. Mesmo estando naquele banco duro que tem em todo hospital que se preze. Estava tão estafado que nem se preocupou com o que se passava com a mulher e o futuro “herdeiro”. Nesse meio tempo entrou uma equipe de estagiários, futuros médicos que aproveitam as férias pra aprender nos hospitais coisas que as universidades nunca ensinavam. Vinham falando sobre futebol e a discussão só parou quando eles se depararam com aquele homem magro e amarelo desacordado na sala de espera. Fizeram logo uma reunião pra dar força, coisa de novato!… Um dos “doutorzinhos” tomou logo a temperatura do “paciente” e ao constatar que estava normal alertou aos companheiros: “Febre ele não tem, mas que é grave isto não resta dúvida, estou suspeitando de hepatite”. Resolveram transferir o “paciente” para um quarto, lá eles fizeram uma bateria de exames. Até massagem no coração Milson recebeu, e nada de acordar… Depois de examinar o paciente da cabeça aos pés, um dos membros da equipe, um gigante com cara de criança e 2 metros de altura por 1 metro de largura, virou o coitado de bunda pra cima e disse com ar de quem conhecia tudo sobre medicina: “Deve ser próstata, vou dar um toque retal pra ver em que estado se encontra”. Quando o doutorzão estava no meio do exame, Milson deu um pulo de cima da maca e já caiu em pé, ao sentir que estava usando aquela roupa de paciente, perdeu a cabeça e rodou a baiana: “Cambada de sacanas, cadê minha cueca? Esses dias meu irmão foi atropelado e ficou esperando mais de doze horas pra ser atendido. E eu que não tenho nada, só vim trazer minha mulher pra ter criança, futucaram até meu rabo! Vou processar todo mundo, principalmente esse tarado do ‘dedão que parece um taco de sinuca’ ”. A equipe não sabia onde enfiar a cara, mas assim que a enfermeira chegou com a boa notícia do nascimento de um garotão os ânimos se acalmaram. E ele acabou entendendo que os futuros doutores não tiveram culpa, tudo não passou de um engano, afinal o mais adiantado da equipe cursava o 6º período de medicina, estavam na fase romântica da carreira…, ainda conjugavam o verbo ajudar com mais frequência…, a intenção foi das melhores! Mão de Onça, apelido do “dotô” que examinou a próstata de Milson, só estava querendo ser prestativo.