Em 1970 eu era apenas um menino, um jovem, eu começava a entender um pouco mais as coisas, o mundo real, não aquele experimentado nos meus primeiros 12 anos vividos na minha inesquecível terra, a querida Condeúba, e depois os tempos da minha juventude aqui em Conquista, cidade que veio a ser a minha paixão, e eu sou verdadeiramente apaixonado por ela.

xxxxxxxxxxxx

Copa de 70, primeiro grande feito no esporte, no futebol, que o Brasil conquistara e despertou o sentimento de amor à pátria, o orgulho de ser brasileiro.

A seleção em si já era um monumento, era uma composição de mestres da bola, de craques, de homens que sentiam orgulho de vestir a “amarelinha”, nome dado por Zagalo e que foi adotado pela torcida brasileira.

Ao executar o hino nacional antes de começar os jogos, todos os jogadores o faziam com a mão esquerda sobre o peito e o gesto era acompanhado pelos reservas, comissão técnica e também pelos milhares de torcedores que estavam nas arquibancadas.

xxxxxxxxxxxx

Evidente que a nossa seleção era sinônimo de vitórias, uma atrás da outra, era uma constelação de estrelas que brilhavam dentro de campo, tinham luz própria. Capitaneados por Pelé, eram jogadores que nos traziam, jogo após jogo, emoções que só o Divino Mestre poderia nos explicar.

Sim, eram eles que nos faziam felizes, mesmo com o placar adverso em algumas oportunidades, sabíamos que a vitória viria no final, era uma questão de tempo.

O comandante do nosso time imbatível da Copa de 70, no México, já fora campeão mundial como jogador em 1958 e 1962, ao lado dele já tinham “monstros” sagrados do futebol, a axemplo do menino Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Didi, Djalma Santos e Gilmar. Estamos falando do predestinado Zagalo, mais que um comandante, um líder, o verdadeiro líder, aquele que não impunha sua condição de tal, mas que cada gesto, cada palavra, era assimilado pelos jogadores dentro e fora de campo.

xxxxxxxxxxxx

Com Zagalo eu descobri que o futebol não era apenas uma diversão, um entretenimento, uma coisa que nos dava prazer em praticar e assistir. Com o advento de Zagalo à frente da seleção, vimos que o nosso sentimento de pertencimento, de orgulho de ser brasileiro, aflorava, mexia com o nosso ser, e ao tocar o hino nacional, ao ver a nossa bandeira tremulando, o espírito patriótico vinha como um vulcão e tomava conta da gente.

Mais que qualquer pessoa, foi Zagalo que passou isso para mim, por mais que tinham setores da nossa sociedade que eram contrários à grandeza do nosso futebol, da supremacia da nossa seleção, aí entrava a questão da política ideológica, o que não deveria acontecer.

Felizmente, não obstante tudo isso, a genialidade dos nossos jogadores e a liderança incontestável do Velho Lobo superaram tudo isso, e no México, sob o comando desse brasileiro apaixonado, nos sagramos tricampeões mundiais, e em campo, o menino que já vinha como vencedor de duas copas, já “homem feito”, se sagrou o Rei do Futebol, o Pelé, e que partiu sendo reconhecido pela mídia, jogadores, treinadores e torcedores de todo o mundo como um ser insuperável na condição de jogador de futebol.

xxxxxxxxxxxx

Zagalo está sendo velado, logo mais partirá para sua última morada aqui na Terra. Todas as homenagens que estão lhes prestando, todas as representações, inclusive, políticas, a exemplo do presidente Lula e os presidentes da Câmara e do Senado, o mundo inteiro ligado ao esporte, ao futebol, foi unânime em reconhecer no nosso vitorioso técnico uma figura extremamente importante na história do futebol. Em um país como o nosso que peca por não preservar a sua história, que esquece de reverenciar os seus ídolos, vimos brasileiras e brasileiros enaltecerem os ícones do esporte, Pelé, como jogador, e agora Zagalo, como o homem que impregnou em nós todos o orgulho de sermos brasileiros. Portanto, é como se estivéssemos sendo reconhecidos.

Até o mais pragmático, o mais radical, aquele que não comunga com a ideia de que Zagalo foi um extraordinário brasileiro, com certeza não se levantará, ficará em silêncio, não se manifestará contrariamente em respeito ao que representou o homem que dirigia aos seus jogadores em momentos decisivos dizendo: “vai dar certo, acredito em vocês!”.

Zagalo sempre entendeu que mexer com o emocional dos seus jogadores, com o brio, resolvia muito mais que a força. Eu também creio nisso.

Vá com Deus, Zagalo, vai dar certo!