Mozart Tanajura: há 14 anos Conquista perdeu parte da sua cultura
Um dos nomes mais notáveis da cultura de nossa cidade, uma marca indelével da sabedoria, das letras, da generosidade e da fraternidade. Com ele, eu e a cidade aprendemos que a vida é ser e não ter.
Completa hoje quatorze anos que o professor Mozart Tanajura partiu prematuramente. Tive a honra de tê-lo sempre comigo nos meus eventos culturais, notadamente na Gincana Massicas e no Festival de Música e Poesia que aqui realizamos. Ele, Mozart, ao lado de outros intelectuais e amigos foram artífices dos nossos eventos.
Carlos Geovah, Esechias Araújo, Iara Damiana, Eleusa Câmara, Rui Medeiros, Durval Menezes e tantos outros intelectuais sabem o quanto Mozart Tanajura foi importante para todos nós. Hoje, dia do aniversário da sua morte, um dos seus queridos filhos, também de privilegiada inteligência, presta-lhe a homenagem a seguir:
Saudade que se torna poesia
Mozart Tanajura Júnior*
“A saudade é a certeza da presença de alguém que amamos no nosso íntimo” (TANAJURA JÚNIOR, 2018).
Como o tempo passa e deixa saudades fincadas em nossos corações! Há 14 anos chorávamos a perda física de meu pai Mozart Tanajura. Foram dias de muita apreensão, quando submetido a uma cirurgia do coração veio a falecer na grande São Paulo, exatamente no dia 24 de maio de 2004. Antes mesmo de completar 68 anos, Mozart Tanajura, meu amado pai, deixava várias obras inéditas sobre a literatura e a historiografia regional. Para muitos estudiosos, um dos maiores pesquisadores de História Regional e um dos grandes literatos da Bahia: da prosa ao verso, dominava exemplarmente as letras. Com sua crítica literária aguçada, prefaciou mais de 40 livros e escreveu diversos artigos sobre literatura ao longo de seu itinerário acadêmico. Nascido em Livramento de Nossa Senhora em 14 de setembro de 1936, cidade da qual sempre se orgulhou e a presenteou com uma obra ímpar: História de Livramento, a terra e o homem (2004). Aliás, em Livramento de Nossa Senhora teve a oportunidade de publicar o seu primeiro texto no conhecido jornal local “O Lampião”, em 1962. A partir daí, não parou mais de publicar. Tendo inclusive publicado ainda “História de Conquista – Crônica de uma Cidade” (1992) e “História de uma Cidade contada por ela mesma” (2002).
Hoje acordei com este sentimento de saudade pesando bem forte em mim. Sei que, mediante a minha fé cristã católica, quem morre não se desfaz numa completa nadificação, mas se transforma, torna-se cidadão do infinito, ressuscita com Cristo Jesus. Isso muito mais que consolo é convicção de quem acredita num projeto de vida e salvação. A morte não representa o fim, mas o início de uma nova fase existencial do ser; a morte é a perspectiva de uma passagem deste mundo material à dimensão transcendental.
A última poesia “Poema escrito no avião” de autoria de meu pai ratifica nossas palavras. Nota-se neste poema o aspecto metafísico, sobretudo nos últimos versos, os quais nos convidam a uma reflexão referente ao encontro entre Deus e o homem: “Agora sou atmosfera/ e me perco na imensidade do céu,/ longe dos homens, mais perto de Deus”(TANAJURA, 2014).O encontro com Deus a partir de sua inserção ontológica na “imensidade” do céu recria um estado espiritual no âmago do poeta de união com o Absoluto.
Assim acreditamos, assim expressamos: Mozart Tanajura bateu asas e foi morar no céu: “como o passarinho que voa deixa a pena no ninho, a pessoa que parte deixa a saudade no coração de outrem” (TANAJURA, 2004). E de lá nos envia, ao contemplarmos as estrelas em noite de luar, os raios solares em dias de verão com nuvens de algodão, ou até mesmo a fina garoa que sempre recai na Serra do Periperi e faz mais bela a cidade, poesias repletas de saudades que atenuam a dor de sua partida há 14 anos.
*Mozart Tanajura Júnior, filho do Prof. Mozart Tanajura, é membro da Academia Conquistense de Letras e professor da FAINOR.