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 Foto: Ascom Câmara

Alexandre Pereira é  advogado, ex-vereador com quatro mandatos e ex-presidente da Câmara Municipal de Vitória da Conquista . Eu fui recebido em seu escritório para falar dentre outros assuntos de sua saída do Partido dos Trabalhadores (PT) e sua recém afiliação ao Partido Socialista Brasileiro.

BM: Como você vê a sucessão do doutor Gutemberg Macedo ?

AP: Um processo importante para cidade o doutor Gutemberg que fez um trabalho reconhecido tanto nas categorias dos advogados como também nas lutas sociais. Acho que é normal a disputa eleitoral em qualquer segmento, mas, penso que essa campanha na Ordem extrapolou um pouco aquilo que considero limite do razoável. O embate deve ser sempre das ideias, propostas e de como construir, porém, como todo processo eleitoral devemos trabalhar a lógica de que após todo esse processo do qual foi a eleição a categoria possa sair unida.

BM: Conhecemos sua história na cidade você teve uma participação política no PDT, logo em seguida, ingressa no Partido dos Trabalhadores (PT) e consegue fazer uma história vitoriosa de mandatos, inclusive presidindo a Câmara e liderando a bancada do prefeito. Qual análise que você faz em disputas políticas eleitorais?

AP: Massa, sou extremamente grato a população de Vitória da Conquista pela oportunidade e confiança que eles me deram, me elegendo e reelegendo vereador no município por quatro vezes e presidindo a Câmara por duas oportunidades. Tenho a consciência tranquila que nós buscamos dar a nossa contribuição, seja a frente da presidência da Câmara ou na condição de vereador defendendo os grandes projetos de interesse da cidade e ajudando que o município avançasse, foi com certeza extremamente honroso ter participado desse processo. Ao longo desses anos fiz parte da bancada de apoio ao governo na Câmara, mas, sempre ressalvado que nunca abri mão do meu direito de pensar, da minha autonomia e de criticar  interna ou externamente quando necessário. Penso que a política seja isso tem que ter espaço para as divergências e convergências internas e eu sempre busquei ter essa conduta, mas, acho que nós sempre conseguimos chegar a um denominador comum e realmente aprovar o que de fato sempre foi melhor para cidade. Portanto, lhe digo com satisfação que após esses quatro anos de cumprimento de mandato não há nada do que tenha feito neste exercício que me envergonhe. Fiz aquilo que sempre achei o melhor a ser feito, dialogando com a sociedade e demais forças políticas, penso que a política tem que ser sobretudo educadora e transformadora. Só interessa estar no âmbito político se pudermos defender e pregar aquilo que realmente acreditamos e ter o voto das pessoas por apoiarem e acreditarem naquilo que a gente faz.

BM: A política é uma coisa dinâmica e temos visto que muitos representantes têm mudado de partidos. O que determinou sua saída do PT neste momento? 

AP: O partido do ponto de vista nacional acabou cometendo alguns equívocos, embora não se possa desconhecer tudo de positivo que foi construído ao longo desses anos. De fato, se perdeu um pouco principalmente na bandeira da ética que sempre foi um carro chefe do PT e com alguns desvios de conduta isso acabou se perdendo um pouco. A minha decisão de deixar o partido diz muito mais respeito ao quadro local, porque fazemos política na cidade e é aqui que precisamos ter o espaço para dialogar, poder apresentar ideias e contribuir com a sociedade. Passei dezesseis anos no PT e ao longo desse tempo busquei honrar as bandeiras e metas do partido, porém, fui me dando conta de que o espaço do conhecimento, debate e do diálogo foi se reduzindo cada vez mais internamente e aos poucos não se vinha tendo essa oportunidade. O partido deixou de ser um espaço de discussão e elaboração para ser um espaço tão somente de homologação das decisões, quando muito. Já manifestava opiniões nesse sentido desde 2007, inclusive quando nós fizemos uma disputa interna no partido, de lá para cá demos mais um tempo e fizemos uma série de intervenções no sentido de mudar esse quadro, mas, percebemos o agravamento dessa situação que eu relatei.  Por tudo isso já vinha alguns anos distanciado de participar das atividades da sigla e diante desse quadro passei a avaliar que não existia mais razão de ser e continuar sem me sentir membro ou parte integrante do partido. E da imensa relação que construí com os deputados Zé Raimundo, Valdenor e Jacaré e com tantos outros companheiros de partido, demoramos por vezes de tomar a decisão, mas, chegou um ponto no qual avaliei que permanecer no PT seria me anular politicamente, cerceando o direito de estar intervindo, participando e contribuindo para que a nossa cidade continue a avançar e seja cada vez mais forte. Senti que não tinha mais espaço para fazer dentro da sigla e decidi deixar o partido, e consequentemente teria que buscar um partido que do ponto de vista ideológico tivesse dentro daquilo que penso, daí a decisão por estar integrando o Partido Socialista Brasileiro (PSB).

BM: Essa sua saída tem um indicativo de rompimento com o projeto de esquerda ou de centro esquerda a nível nacional, ou mesmo de insatisfação com algumas posições que o partido vem apresentando no cenário nacional?

AP: Claro que o cenário nacional tem um peso nisso, o governo passa por momentos de dificuldades com relação a governabilidade e no tocante as decisões econômicas, algumas que precisavam ser tomadas e foram de certa maneira proteladas. Embora, no que pese, não se pode desconhecer os enormes avanços trazidos para o país desde o primeiro mandato até um segundo momento com a presidente Dilma. Essas situações em minha opinião estão relacionadas com a necessidade de se ter uma reforma política profunda principalmente no que se refere a questão dos financiamentos de campanha, um dos grandes males atuais, sem querer esconder os desvios de conduta pessoais para enriquecimento indevido e que deve ser combatido em qualquer partido.

BM: Se não fosse esse problema que é manchete nacional e o mundo já tomou conhecimento com o mensalão e o lava jato, você acredita que o PT que capitaneia o projeto de centro esquerda no país, o governo Dilma e a própria história do presidente Lula estariam no momento mais confortável?    

AP: Certamente. Essa questão que você citou principalmente da lava jato trouxe uma profunda crise e descrédito político na economia. A verdade é que o que estamos presenciando é uma crise política real e existente, agravada pela situação no âmbito político. Isso tem tido um forte impacto na economia e uma situação que preocupa, não interessa inclusive quem apoia o governo e está chegando ao ponto que não vai interessar também quem faz oposição. Precisamos refrear essa situação e retomar a estabilidade política, pois, este cenário prejudica a todos segmentos da sociedade e independente do partido que se esteja não se pode apostar num cenário desse de caos. É o momento que o Brasil precisa se unificar para que a coisa volte aos trilhos.

BM: Excetuando essa questão de interlocução interna da Frente Conquista Popular e tirando de lado as questões filosóficas de encaminhamento, você empunharia a bandeira da administração municipal, teria alguma dificuldade de fazer a defesa do governo do município?

AP: O governo municipal, eu reputo que ele tem muitos méritos, sempre digo que estamos longe de poder se afirmar que existe um cenário de terra arrasada, porém, alguns rumos precisam ser corrigidos. Temos um cenário hoje de 20 anos de poder local esses anos vêm criando dificuldades desde a constituição da equipe de governo que se compararmos a primeira formada em 1997 com a atual, foram mudados os critérios de composição de governo.   A primeira foi buscada um grupo com viés político, mas, privilegiando o aspecto técnico. Na atual situação nós temos um quadro de que se tem privilegiado muito mais as questões das relações interpessoais em detrimento da competência técnica para o exercício de determinadas atribuições. Isso tem repercutido negativamente no que seria o desempenho do governo. Por conta disso estamos tendo dificuldades em diversas áreas e elas são latentes, a cidade tem questionado e eu penso que a gente precisa retomar um pouco isso. É preciso criar alternativas, até porque a alternância de poder  é necessária e por isso deve se criar um novo campo na cidade que já vem se desenhando há algum tempo e compreenda que se é possível fazer mais e melhor. É necessário se traçar um projeto a longo prazo e para isso é preciso se ter humildade para discutir com as diversas forças políticas e com os diversos técnicos das diversas áreas, que se dialogue com as forças políticas locais, inclusive com aquelas que exatamente não comunguei das mesmas ideias. Acho que de algum tempo o governo municipal perdeu essa sensibilidade e possibilidade de estar dialogando para corrigir o ônus.

BM: O ato de filiação sua ao PSB contou com diversas autoridades estaduais e locais do partido. Creio que tenha sido um momento que você irá guardar na memória com bastante carinho.

AP: Fiquei extremamente feliz com a dimensão que aquele ato teve. Aquilo que era apenas para o PSB, acabou se transformando em um ato suprapartidário, onde tive a felicidade de participar não só com a militância, grandes expoentes do Partido Socialista Brasileiro, mas, também tendo presentes diversos vereadores e partidos políticos. De fato, um gesto que me alegrou e que não recebi de outra forma senão a trajetória que consegui construir na política, e que aumenta minha responsabilidade com o que faço e pretendo fazer. Algo que vai deixar marcado na minha história.

BM: Em conversa com o prefeito, ele considerou sua ida um gesto normal e natural do ponto de vista democrático. O deputado José Raimundo também entendeu desta forma e inclusive lhe desejou sucesso. Para o PT não é somente a perda de uma pessoa, mas sim, de uma representação que a cidade admira, você já conversou com algum desses nomes citados ou do seu antigo partido para se ter a real dimensão de sua saída para o PSB?

AP: Eu procurei conduzir as coisas da maneira que penso ser o ato da mudança política, não representando ela necessariamente uma ruptura das relações interpessoais. Tive o cuidado de redigir uma carta ao Partido dos Trabalhadores (PT) explicitando minhas razões, conversei pessoalmente com os deputados Valdenor e Zé Raimundo com quem convivia mais proximamente no partido, coloquei a eles as minhas razões, e é claro que, embora que não desejando que tomasse essa decisão dentro do contexto político compreenderam o meu gesto e estou agora nesse novo caminho, porém , com muitas amizades, boas relações,sobretudo sem qualquer tipo de inimizade.

BM: Eu acompanhei há seis anos atrás uma manifestação na cidade, uma inserção de pessoas ligadas a você, amigos de diversos segmentos que queriam que seu nome fosse lançado como candidato a prefeito. A sua ida ao PSB não é apenas a vinda de um militante, embora você o seja, mas, tem sua estrela própria. Essa sua ida tem uma conotação por acaso política visando as eleições municipais para prefeito?

AP: Essa decisão de ingresso no PSB está muito relacionada com aquilo que relatei inicialmente, o sentimento de criar algo novo que se permita renovar a condição política e os quadros políticos da cidade se constituindo em uma alternativa para o município. O PSB embora integre o governo municipal na figura do vice-prefeito, tem manifestado o sentimento de ter a possibilidade de contribuir com a cidade na perspectiva de ter uma candidatura própria. Meu ingresso nessa nova sigla se dá em primeiro momento para me associar aos quadros que o PSB já tem hoje, que são quadros ricos e locais tendo perfeitas condições de disputa numa eventual candidatura. Posso citar o Gilzete Moreira, a Nadjara Régis, Zé Carlos, o vice-prefeito Joás Meira, que são quadros com boas condições de se fazer uma disputa. Eu chego como um dos habilitados para isso, evidente que não me filiei condicionando que para minha filiação teria eu que ser o candidato a prefeito e de igual forma o PSB em momento algum me fez essa exigência. A grande tarefa que nós temos é discutir a cidade com as diversas força do município e fazer um planejamento da Vitória da Conquista que queremos e escolher o nome que melhor represente esse sentimento.

BM: Ao chegar no local um vídeo mostrava que o PSB está rompendo ou rompeu com o projeto de governo do PT. Os discursos inclusive de quase todos presentes é de que o partido deve se apresentar com candidaturas próprias. Apesar da boa relação e dos perfis muito parecidos do prefeito e do vice-prefeito, você acredita que o PSB poderia lançar uma candidatura enfrentando o PT?

AP: Acredito e a todo momento as conversas que nós temos tido tem sido nessa linha de que o partido deseja estar trabalhando nessa direção, esse é um dos anseios da direção estadual e nacional do partido, mas também da direção local que acredita ter chegado a hora de uma resposta direta. Por isso trabalha firmemente com o propósito de ter candidatura própria e é esse o objetivo e a meta, o fato de ter um vice-prefeito do partido não tira sua capacidade de crítica ou que rumos precisam ser retomados ou corrigidos. A proposta política deve ser pautada corrigindo os equívocos que possivelmente se tiveram sobretudo para avançar nas questões acertadas nos governos anteriores.

BM: Existe candidaturas postas como o candidato Herzem Gusmão (PMDB), uma possível candidatura do PSDB que ganha uma visibilidade com a entrada de Onildo Oliveira, o Grupo Independente liderado por Romilson Filho, Marcelo Melo (DEM), Jean Fabrício do PCdoB, além de Armênio Santos, Frederico Ferraz , Arlindo Rebouças  e por último a REDE formada por intelectuais e que querem ocupar um novo espaço na cidade. Como você vê tudo isso?

AP: É um cenário político eleitoral muito rico do ponto de vista de forças locais e natural na visão de uma cidade que se tem uma eleição em dois turnos, sendo extremamente válida essa pulverização de candidaturas. Agora evidentemente aquelas forças políticas que tiverem forças de fazer uma campanha podendo passar ao segundo turno vão ter que refletir um pouco sobre esse quadro. Porque para que se tenha essa possibilidade, é necessário que se tenha uma aglutinação das forças, e claro, deverá se dá em torno da construção de convergências no que se pensa para cidade.  É um quadro ainda preliminar, creio que daqui para março se tenha uma tendência de um afunilamento maior desse quadro, ainda existe uma incógnita grande que é essa discussão de duas candidaturas importantes dentro desse tabuleiro que é a possível candidatura do PMDB do candidato Herzem Gusmão, que obteve uma decisão monocrática, porém, ainda cabe recurso e poderia ser levado a plenário, e assim ainda conviveríamos com esse cenário de incerteza por mais algum tempo. Nós não sabemos como ficará o quadro do Partido dos Trabalhadores que é do governo municipal e que naturalmente por ser governo é uma candidatura que vem com força. Temos a incógnita por conta desses dois partidos e as demais forças políticas, tirando desse grupo o PCdoB que está com o quadro bastante nítido de definição. Vejo de forma legítima e natural essa quantidade de partidos que queiram se colocar à disposição para apresentar-se com seus candidatos. Mas, creio que se afunile mais um pouco, até porque um quadro de pulverização como esse acaba por fragilizar a todos dificultando para uma possibilidade real de segundo turno.

BM: Rui Medeiros, uma das figuras mais expressivas do cenário local, pensador, filósofo, historiador e um militante da esquerda nacional  sem dúvida alguma uma das referências da política de Vitória da Conquista, puxou a fila que foi seguida por Guilherme Menezes, Zé Novais, Zé Raimundo, Valdenor e tantos outros nomes, um grupo de professores, jovens idealistas, políticos que construíram e sucederam a um ciclo que foi capitaneado por Pedral. Nesse instante as forças que compunham esse grupo começam a tomar rumos diferentes, como é que você analisa isso?

AP: Essa é a situação que nós falávamos, a política é feita de ciclos até porque o ser humano está sempre buscando mais e o melhor, sempre disposto a renovar, e eu compreendo que um ciclo está se encerrando e há um momento de se iniciar uma nova trajetória. Penso que não fossem determinados equívocos na condução, que o ciclo político dominante atual poderia ter um prolongamento podendo sobreviver por mais algum tempo. Mas,  diante de equívocos na condução política é que tem gerado distensões internas que são públicas e não se podem desconhecer, isso tem fragilizado e muito a situação. Por conta disso acredito que estamos num processo de mudança e renovação das forças políticas que haverão de comandar nossa cidade pelos próximos anos.