7 conto

Por Monalisa Barros*

5 de março de 2016

Hoje estivemos no Dublin Zôo. Uma das atrações mais recomendadas na Irlanda. Eles tem um profundo orgulho e respeito por este espaço. Passamos o dia! Vimos tudo que nos foi possível, pois havia alas fechadas para reforma. A primavera está chegando por aqui e é sempre a estação da renovação depois do intenso inverno. Conhecemos diversos animais que eu sequer sabia que existiam, como o bongo, o panda vermelho, o Ocapi…é um dos Zoos mais antigos do mundo, foi fundado em 1831.

Mas algumas questões começaram a me provocar a escrever este texto:
1. O Zoológico de Salvador tem mais espécies, é bonito, não temos o frio para dificultar o passeio e é público! Aqui pagamos 30 euros por uma entrada de adulto e uma de criança. E mesmo assim não falamos de nosso zoológico como um ponto de atração aos visitantes e nem valorizamos nosso espaço!
2. Por outro lado, eu acho que este tipo de atração turística deve ter seus dias contados! Com o crescimento do movimento em prol dos animais, continuar a retirá-los de seu habitat apenas para que alguns humanos os vejam, equivale a matar o golfinho para fazer um selfie com ele! E é a partir daqui que sigo…

Acredito que no passado, quando as possibilidades de viajar de um lado para o outro do planeta eram raras se justificava o encantamento por conhecer animais exóticos dentro do espaço de vida do visitante do zoológico e não do animal. Hoje com tantas possibilidades, pela globalização, pelo acesso à informação, houve um momento no passeio que pensei: O que é que eu estou fazendo aqui? Comecei a pensar: O que será que esses animais pensariam se pudessem pensar, se é que não podem? Um monte de gente fazendo fotos, usando flashes, cegando-os momentaneamente, enquanto eles, entediados, se expunham a este voyeurismo?

No espaço destinado aos leões marinhos, a gente desce uma rampa ao lado do lago e se encontra abaixo do nível da rua com uma parede grande de vidro onde podemos vê-los nadando dentro da água. Havia umas 30 a 40 pessoas entre adultos e crianças se espremendo no vidro. Um leão marinho vinha, encarava uma criança e avançava contra o vidro. Todos riam e esperavam que retornasse novamente agora encarando uma outra pessoa. Flashes, flashes, flashes… e a minha vergonha crescia. O que é que eu estava fazendo ali?
Saímos deste espaço e comecei a conversar com Pedro e ele, do alto de seus doze anos recém completados, me disse, mas mamãe eles também fazem um trabalho de estudos sobre as espécies e buscam a reprodução daquelas espécies ameaçadas. BINGO!!!

Isso, Pedro! Acho que no futuro teremos as extinção dos zoológicos como fizemos com o uso dos animais em circos. E o que virá serão mais espaços de estudo acerca dos animais daquele território, como temos no projeto TAMAR. Assim se quisermos conhecer tartarugas marinhas que viajemos para a Praia do Forte, se quisermos conhecer o elefantes que viajemos para a África para visitar um projeto que produza conhecimentos e benefícios para os próprios elefantes em seu habitat natural. Ou que os visitemos via web.
E assim sai do Zoo. Certa de que se eles vão se extinguir antes de extinguirmos os animais. E que nós, humanos, seremos mais cuidadosos em criar outros espaços que promovam conhecimentos, nos satisfaça a curiosidade, mas sobretudo respeite os animais!

*Monalisa Barros é Psicóloga, mestre em pesquisa aplicada á população pela Universidade de Exeter, Inglaterra, Doutora em psicologia pela UFF, Niterói, RJ e atualmente em pós doc no grupo de pesquisa Maternity Care, pela Trinity College Dublin, Irlanda. Professora de saúde coletiva do curso de medicina da UESB de Vitória da Conquista. Membro do grupo de Cirandeiras de apoio ao parto humanizado.