Meus amigos, minhas amigas, é preciso reconhecer: a política, assim como o futebol, é feita de momentos. Há fases em que tudo parece conspirar a favor de um time, ou de um grupo político. No esporte, a bola desvia em alguém e entra, o ponta cruza na medida e o centroavante faz um gol de bicicleta. Tudo dá certo, e a torcida vibra em êxtase.

Na política não é diferente. Quando a maré está favorável, cada gesto, cada discurso, encontra eco na sociedade. E o contrário também é verdadeiro: há momentos em que, por mais que um grupo tente, nada funciona, não há adesão popular, não há clima.

Desde a eleição de Jair Bolsonaro, e mesmo após sua derrota, a direita conseguiu se manter em evidência. Seus líderes, seus filhos, seus seguidores, ocuparam redes sociais, imprensa e ruas com insistência. Esse movimento foi tão intenso que quebrou o paradigma histórico: a rua, antes reduto da esquerda, passou a ser território também da direita. E isso, sem dúvida, foi uma mudança de cenário.

A esquerda, nesse contexto, recuou. Limitou-se às redes sociais, perdeu o discurso de massa e deixou de protagonizar mobilizações populares de peso.

Mas a política é dinâmica, é pragmática, é como nuvem, quando menos se espera, muda de lugar. E foi exatamente o que aconteceu com a chamada PEC da Blindagem. Se antes a esquerda não encontrava bandeira clara para levar o povo às ruas, agora ela encontrou o combustível que faltava.

A PEC, rejeitada pela maioria da sociedade e considerada uma afronta à democracia, tornou-se o estopim. Foi o fato novo que deu ânimo, que devolveu à esquerda a confiança para mobilizar. E no último domingo isso ficou evidente: milhares foram às ruas para protestar contra aquilo que chamam, com razão, de “vergonha nacional”.

O que se vê agora é um cenário em que os dois polos políticos voltam a disputar não apenas nas redes, mas principalmente no espaço público das ruas. A direita já vinha ocupando esse terreno; a esquerda, com a PEC da Blindagem, retomou fôlego.

E fica a lição: em política, nada é definitivo. O tabuleiro muda conforme os fatos, os erros e as oportunidades. E dessa vez, quem ofereceu o combustível para o renascimento da esquerda nas ruas foi justamente uma proposta vinda do outro lado.