O pré-carnaval do Alpha marcou o desejo de pular atrás do trio
Todo mundo lembra que a Micareta de Conquista, que demos o charmoso nome de Miconquista, ganhou espaço na mídia em todo o Brasil, por causa de algumas peculiaridades próprias da cidade, como, por exemplo, a passividade do povo, a alegria estampada no rosto de cada conquistense, a receptividade e acolhimento que todos esparramavam nos quatro dias de folia, hospedando boa parte dos turistas, já que os pouquíssimos hotéis que tínhamos não absorvia todo mundo.
Os outros dois ingredientes que compunham o sucesso da festa eram o clima gostoso e o percurso quilométrico, sinuoso, mas que motivava o folião a comprar e pagar o carnê do bloco.
Os trios parados em frente ao Colégio Sacramentinas a partir da terça-feira da semana da festa era o prenúncio de que uma longa viagem de muita música, amizade, paz e muito namoro começaria na noite de quinta-feira e se prolongaria até a madrugada do domingo seguinte com o banho da ressaca na Avenida Bartolomeu de Gusmão.
As paradas estratégicas que os trios registravam em pontos do percurso tornaram-se obrigatórios para manter a tradição.
Em frente ao Centro de Cultura eram dados os primeiros acordes, a guitarra e a voz dos artistas ecoavam a partir dali, anunciando que a festa ia começar. Os foliões brotavam do chão, apareciam de todos os lados, de todas as ruas, a Rosa Cruz, Rua da Granja, Praça da Escola Normal, era um rio de gente, um ambiente colorido com os abadás dos diversos blocos.
A primeira parada era em frente a tradicional Praça da Normal, seguia e tocava por um bom tempo em frente a Pé de Sorvete, dividindo as atenções com as varandas do Capitulino Teles; mais à frente, os prestigiados compradores do Camarote Empório tinham um show particular;
A grande e mais esperada parada, a apoteótica entrada na Pracinha do Gil, era o êxtase para foliões, artistas e pipoca. Cenas de raras emoções transmitiam para todo o Brasil, através das telas da TV, a grandiosidade da micareta de Vitória da Conquista.
Na Pracinha do Gil brincava todo mundo: compradores de camarotes; foliões dos blocos que compraram abadás e também o folião pipoca que não pagava nada por isso, curtia o Chiclete, Ivete, Asa, Timbalada, Netinho, Harmonia, Claudinha, Eva numa boa, por preferência ou porque a grana era curta. A festa era do povo.
As emissoras de rádios vendiam todas as cotas de patrocínio e transmitiam ao vivo para toda a região. As duas emissoras de TV também faziam o mesmo, todo mundo ganhava dinheiro…
…os blocos precisavam vender os seus abadás para pagar as bandas, trios elétricos, carros de apoio e toda a estrutura necessária para participar dos quatro dias de desfile.
E continuava o desfile: depois da Pracinha do Gil, parada sagrada para saudar dona Dalva Flores, os Camarotes do CCAA e Cia. do Bode, para em seguida, enquanto o trio fazia a curva para descer a Otávio Santos, na esquina da Chame Chame, o Barracão da Adusb curtia “de camarote” todas as atrações.
O desfile estava apenas começando, descia toda a Avenida Otávio Santos, chegava a Bartolomeu de Gusmão, seguia a até a rotatória do Hospital Samur e com uma multidão nas laterais dos trios, continuava o cortejo feliz de nativos e turistas.
Na Bartolomeu, o palanque oficial da prefeitura. Claro, parada para saudação às autoridades e os elogios eram feitos, os agradecimentos, etc, etc… e o desfile continuava, chegava à Praça Vitor Britto, subia a Ascendino Melo, ali tinha a tradicional parada em Frente ao Aerobar e o Shopping Itatiaia. Ali era um “verdadeiro carnaval”, mas o tempo não para, já estávamos na São Geraldo, no alto, mais uma paradinha:
Ali estava o Posto Pantanal, gente “saindo pelo ladrão”, e mais uma “godela” para a turma da pipoca.
Avenida Vivaldo Mendes, apertada, nela “filho chora e mãe não vê”, o alívio é que era proibido “os donos do alheio levarem os celulares” e estava de volta a Pracinha do Gil, paradinha básica em frente ao Justino Gusmão, mais meia hora de música e seguia até o posto Guadalajara, onde arriavam as cordas e tinha a saideira.
Pois bem, até que tentaram, dentro do Parque, no palco, a festa parada, eram apenas shows contemplativos, não tinham como substituir a folia andante. O trio elétrico foi feito para andar, “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”, assim escreveu Caetano Veloso.
O Pré-Carnaval do Alpha mostrou o clima festivo de Conquista. Saudosa da festa momesca, a cidade vinha cumprindo os protocolos sanitários, evitando festas que pudessem exceder o número de foliões, salvo aqueles que realizavam eventos clandestinos.
E assim foi o Alpha, tranquilo, alegre, organizado, seguro e com muito axé de qualidade.
FESTÃO!
Tudo isso reflete o desejo de matar a saudade de em breves dias correr atrás do trio elétrico.