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Bom dia, amigos e amigas!

Extrai a frase acima de um escrito do filósofo e teólogo alemão, Albert Schweitzer (Prêmio Nobel da Paz-1952).

É isso mesmo, a morte de um ser humano é o processo natural da vida, é o destino de todos nós, não tem pra onde correr.

O que pode antecipar a morte de muitos homens e mulheres é quando perdem o direito à voz, o direito de expressão. O direito de falar é sagrado e quando você o perde a sua alma definha, e acaba antecipando a sua morte. O direito de falar é tão sagrado quanto o direito de ouvir. O direito de falar pertence a todos, os outros também precisam ter voz, mesmo que o que eles dizem não seja a nossa verdade.

Quando o homem morre, portanto, foi embora a matéria, as sua ideias permanecerão vivas, só depende de cada um de nós.

Ninguém tem o direito de sufocar a voz de ninguém, respeite a palavra do outro, mesmo que você discorde.

O nosso poeta, historiador e teatrólogo Carlos Jeovah despertou em mim esse sentimento, há muitos anos, quando o convidei para recitar uma poesia no Restaurante Candelabro, ali na Praça Barão do Rio Branco, cujo proprietário, Mário Ivan Pithon Brito, nos cedera o espaço depois de uma semana de labuta para convencê-lo. Mesas lotadas pela sociedade conquistense, único restaurante grã-fino da época. Faltando 10 minutos para a Quadrilha Massicas se apresentar, assim falou o poeta, numa noite de sábado, em 1978:

“LIÇÃO

– Mestre,

Que hei de fazer, quando os pássaros cantarem

Vendo o Sol-rei do fogo a dourar a montanha?

É preciso que eu seja uma sombra, eu, tão moço?

Hei de ser triste em meio alegria tamanha?

– Filho,

Essa voz que quer cantar a vida

Não a sufoques nunca na garganta.

– Mestre,

E que hei de fazer quando os pássaros cantarem?

– Canta.

– Mestre,

E se um dia o amor – esse veneno lento,

Áspero como a penha e brando como o lírio,

Vezes tranquilo como o céu, vezes violento

Como o mar, como os leões, como o delírio,

Se, um dia, o amor me aparecer?

– Enfrenta-o.

Avança para o amor, se o amor te reclama.

– Mestre,

E que hei de fazer ante o amor, se vencido?

– Ama.

– Mestre,

Se um dia – ai! – como é triste este caminho! –

Alguém vier para mim – velho, moço – criança –

Coração sem amor, boca sem pão, ave sem ninho?

– Dá-lhe a alma, que é calor. Dá-lhe esperança.

– Mestre,

E onde irei buscar alma – essa alma que aquece?

E essa esperança – ela que alenta e revigora?

– Filho,

Tudo em ti mesmo está. Vem de ti. Ouve:

Chora!

– Mestre,

Se a terra adusta, do sol cruel martirizada,

Ventre ansioso a esperar um alguém que a fecunda.

Chamar por mim, como a mulher amada,

Prometendo a riqueza, o conforto, a fortuna?

– Filho,

Levanta. Retesa seus músculos. Malha.

Cava. Sua. Fecunda a terra e criarás um mundo.

Trabalha!

– Mestre,

Se, um dia, os déspotas malditos

Desejarem fechar a minha boca

Para que eu não grite mais, não clame mais?

Mestre, meus pensamentos e meus brados

São livres – como os vendavais!

Mestre, se esses monstros a minha liberdade

Querem ver cativa? Na hora ingrata,

Mestre, na hora tremenda, que farei?

– Mestre,

Se, um dia, enrouquecer-se a minha voz que canta?

Se, um dia, envelhecer meu coração que ama?

Se, um dia, empedernir-se a minha alma que chora?

Se, um dia, cansarem-se meus braços que trabalham?

Se, um dia, eu não tiver coragem de matar

Para que a liberdade não pereça?

Mestre, que hei de fazer? Que serei eu na terra?

Fala! De tua boca a verdade dimana,

Como um leite sagrado,

Bálsamo suave que de teus lábios escorre

– Mestre,

Tudo acabado, eu só, eu sem nada, eu cativo,

Mestre, que hei de fazer?

– Escuta, filho:

– Morre!

Camilo de Jesus Lima.”