Ela contou que trabalha na cantina há 12 anos e recebe R$ 950 por mês.

A merendeira Luana Coutinho concluiu o mestrado em Roraima (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)

A merendeira Luana Coutinho concluiu o mestrado em Roraima (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)

Aos 39 anos, a merendeira Luana Coutinho conquistou nesta sexta-feira (15) o título de mestre pela Universidade Estadual de Roraima. Em sete anos de estudo, a funcionária pública se graduou em licenciatura em química e se especializou em ensino de ciências enquanto trabalhava na cantina de uma escola do estado. Com a vitória, Luana comemora: “Quero ser um exemplo para meus filhos”.
Trabalhando como merendeira há 12 anos e recebendo pouco mais que um salário mínimo, Luana percebeu que para melhorar a situação financeira de sua família, composta por ela, seu esposo e dois filhos, precisaria estudar e se especializar.
“Eu escolhi química porque era mais fácil entrar pelo vestibular”, admitiu rindo. “Entrei no curso e me apaixonei pela química. Nunca reprovei em nenhuma disciplina e quando estava finalizando a faculdade já passei para o mestrado”, lembrou.
A escolha pela pós graduação veio em razão do incentivo de professores e com a vontade de se capacitar mais. “Vivia correndo da escola para o curso. Vinha parar nas aulas suja, cheirando a frango, comida, mas sempre vinha. Não foi fácil”.
No começo do curso, contou Luana, além do trabalho como merendeira ela era concursada da prefeitura de Boa Vista e trabalhava como assistente administrativa, mas teve que abrir mão do emprego para conciliar a família, o trabalho e os estudos.
“Foi muito difícil. Eu tive que fazer uma escolha entre o dinheiro e os estudos e eu escolhi o meu mestrado porque acreditei – e acredito – que na frente serei recompensada”.

Dissertação
Para defender sua dissertação no mestrado, Luana optou por trabalhar um tema que envolvia uma didática diferenciada com alunos. Ela buscou mostrar em seu trabalho que a música pode ser um meio usado para ensinar os conceitos de eletroquímica.
“Com o mestrado nasceu dentro de mim o gosto pelos estudos. Na parte em que apliquei a teoria em sala de aula vi que os alunos respondem aos nossos estímulos. Isso é o apaixonante”, disse. Curiosamente, a servidora pôde desenvolver sua pesquisa na mesma escola em que trabalhava como merendeira.
“Eu saía da sala de aula e ia direto lavar a louça ou servir a merenda. Os alunos iam na copa depois das aulas tirar dúvidas comigo sobre os conteúdos”, lembrou.
Luana defendeu a dissertação na sexta e a família da merendeira estava presente no local. “Estou orgulhosa”, disse a filha de Luana, Lyara Oliveira, de 12 anos. Além do apoio da família, ela conta que teve a ajuda das diretoras da escola em que trabalhou durante a pós-graduação.
Mesmo com um passo nos estudos recém concluído, Luana já pensa no futuro. Ela contou que pretende começar a exercer a profissão e após se estabilizar financeiramente partir para o doutorado.
“Eu acredito que sou um exemplo porque até hoje estou trabalhando na copa. Para as pessoas que trabalham como eu, diria para elas não desistirem e lutarem pelos seus objetivos. Eu não pretendo parar aqui, ainda vou fazer o meu doutorado”. (G1.com)