Reminiscências
Por Paulo Mauricio
Tarde de domingo. A noite iria se aproximar rapidamente daqui a pouco. Olho o relógio e vejo que não podia mais perder tempo. A sessão iria começar logo mais. Os amigos esperando. A namorada, idem. A vida, ainda mais.
Pulo da cama. Uma chuveirada rápida. Roupa nova. Perfume. Estou pronto. Desço muito feliz as ruas que me separam do objetivo final: a sessão das 17 hs no Cine Madrigal. O encontro com os amigos. A paquera no escurinho do cinema. O cachorro quente em Valdívio depois do filme. O bate papo na Alameda.
Logo avisto o burburinho. Luís Bocão é o primeiro a chegar perto de mim. E diz: “Vamos, que Zé Lopes hoje está uma fera! Quer barrar todo mundo!”. A passos largos, compramos os ingressos e entramos. Subimos as escadas e a rampa e nos encontramos com o nosso ambiente: sala cheia de amigos, Zé Baleiro, as meninas… O filme vai começar!
O conforto e a felicidade de estar entre os seus, fazendo as suas coisas… Saber que daqui a pouco os amigos se encontram todos na porta, em Valdívio, na Alameda… O filme rolando e a troca de olhares e beijos entre os namorados…
Acordo sobressaltado! Olho em volta. O silêncio do meu quarto me diz que tudo foi apenas um sonho. Os amigos, alguns deles, já não estão aqui. O Cine Madrigal não existe mais. A Alameda hoje nada mais é do que uma artéria comercial. Bons tempos…
Enquanto a adrenalina baixa e procuro voltar a dormir, uma lágrima rola no meu rosto. Nunca mais será a mesma coisa. Mas no fundo do peito, uma chama ainda arde. Vocês estão ainda comigo. Os amigos, o cinema, a Alameda…