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                            Foto: Ascom Câmara

Natural de São Miguel das Matas, no recôncavo baiano, o vereador Florisvaldo Bittencourt sempre esteve à frente de movimentos sociais ligados a Igreja Católica, especialmente nas Comunidades Eclesiais de Base (CEB’S) e Movimento Familiar Cristão (MFC). O edil iniciou sua trajetória na política no PT e integrou a equipe do Governo Participativo na Coordenação de Serviços Básicos.

BM: A primeira coisa que pude notar foi a sua atenção com as pessoas que lhe abordavam na escada, vejo que o mandato do vereador é uma entrega, um sacerdócio.

FB: Primeiramente o vereador precisa compreender que ele foi eleito pelos eleitores e a Câmara Municipal é a representação máxima do povo. Nós temos que ouvir, mesmo que em determinada situação o cidadão não tem uma posição mais correta e temos que orientar estas pessoas porque estamos a serviço da sociedade.

BM: Você por muitas vezes é um vereador inquieto força às vezes a discussão política onde a sua ideologia se faz presente. Esse seu comportamento a que se atribui?

FB: A minha formação vem a partir das comunidades eclesiais de base da Igreja Católica, dos movimentos sociais, e foi isto que me formou em um militante político antes mesmo de me filiar ao PT e chegar ao cargo de vereador. Meu perfil é o mesmo da inquietação da sociedade, ela eu entendo que é inquieta por natureza. Se fui eleito por esse povo inquieto então tenho que demonstrar sempre a inquietação destes cidadãos. Isso por vezes incomoda as pessoas que acabam não compreendendo e achando que é um perfil polêmico. Só que como vamos mudar a sociedade se não atacarmos os vícios do sistema? Então, entendo que o papel do vereador é de inquietude e de provocar discussões.

BM: Você foi líder do prefeito na Câmara e atualmente é líder da bancada. Nessas duas oportunidades o vereador conseguiu chamar à atenção da sociedade por alguns embates internos e que foram vistos não como desobediência, mas como um insurgimento às vezes ou o vereador considera isto normal?

FB: Desde minha formação eu enxergo como normal, faço parte de um governo que administra Vitória da Conquista e me orgulho dele. Porém, não posso deixa de reconhecer que existem falhas e erros de encaminhamentos. É aquela velha máxima de que o bom amigo é aquele que alerta para as coisas erradas. Com essas discussões eu alerto o meu governo e também o defendo, só que não posso deixar de mostrar para eles a inquietude por algumas questões como abordei recentemente aqui na cidade.

BM: A Câmara de Vitória da Conquista como todo legislativo nacional é visto digamos assim como uma participação meramente decorativa. Eu particularmente não vejo desta forma, por exemplo, as outorgas, os títulos de cidadãos conquistenses e as moções de aplausos, muitas pessoas não têm acompanhado a rotina dos vereadores. O que você destacaria nesse labutar silencioso que não é visto e talvez não seja reconhecido principalmente pela classe formadora de opinião?

FB: Se criou essa imagem através dos tempos que só servimos para entregar títulos de cidadãos ou fazermos moções de aplausos. Na verdade o vereador além de ser um dos fiscalizadores dos atos feitos pelo executivo, àquele que vota em plenária os projetos e os discute nas comissões, ele também é um agente organizador da sociedade, pois, compete a ele estar debatendo com o povo e organizar os cidadãos de acordo com as suas verdadeiras necessidades. Ou seja, se você chega num bairro que necessita de uma escola ou um posto de saúde, nada mais justo que não só ouvir essa comunidade como preparar para que busquem junto ao poder executivo e com a Câmara mecanismos de solução. E a solução nem sempre é tão simples e aí que entra o debate, essa construção de cidadania que é pouco visto. Isso traz um grande trabalho principalmente num município como Conquista que além da área urbana, se tem mais de 300 povoados, 11 distritos e cerca 3 mil km de estradas a percorrer. Por isso, o vereador tem que estar atento a todas as reivindicações e participar dessa realidade.

BM: Temos alguns problemas que vêm sendo discutidos como, obras paralisadas, insatisfação com o shopping popular e o aeroporto. Como líder da bancada e vereador quais suas impressões sobre esses questionamentos da população?

FB: O governo avançou em muitas ações, melhorou significativamente em vários setores da cidade. Uma questão como você citou é a do Shopping Popular, o princípio básico deste local é promover cidadania. O cidadão que está trabalhando no mercado informal, o camelô, ele espera do poder público a ajuda para que ele possa vir para formalidade e se equilibrar economicamente melhorando a vida das pessoas como um todo. Qual foi o erro? O governo construiu este estabelecimento e levou essas pessoas para lá, e a principal iniciativa após isso foi taxar o comerciante sem procurar prepará-lo, qualificá-lo para entrar no mercado formal. Essa taxa de condomínio que é a maior da cidade incluindo um equipamento público. Outra ação foi terceirizar a administração do shopping, quando na verdade o governo poderia preparar os próprios comerciantes para administrarem uma associação e gerir o seu próprio espaço. Só essa taxa de condomínio gera uma despesa anual de R$ 800 mil reais desses comerciantes, ou seja, você está inviabilizando essa classe. Este foi um dos questionamentos que levantei e critico por ter uma posição contrária. Quanto ao aeroporto, uma obra importantíssima e esperada, infelizmente a burocracia consome e o poder público prefere ser absorvido ao invés de enfrentá-la. A obra demora muito e você acaba fazendo por etapas, por exemplo, você faz a pista e aí fica faltando licitar a logística para a parte de embarque e estende-se por mais dois três anos o projeto. Isso cria no imaginário popular um descrédito muito grande. A questão burocrática não foi fruto da criação do nosso governo municipal ela tá na própria legislação que assim prevê. É uma das dificuldades como outras ações de obras que poderiam ter avançado, a exemplo, do Conjunto Minha Casa Minha Vida, um programa fabuloso só que precisa-se ter recursos para que após a entrega da casa possa ter uma ação social, entrando com equipamento público, como creche, escola, posto de saúde, e nisso o governo atrasou. Mesmo defendendo este programa como revolucionário também compreendo que existe um erro, um atraso nas ações auxiliares que são as ações que preparam as pessoas para o social.

BM: A prefeitura tem entregue inúmeras quadras e equipamentos que considero importantíssimos para formação da juventude. Mas, o vereador identifica nesse equipamento a continuidade do projeto de materializar a prática do esporte?

FB: Temos um problema no meio disso tudo que é quando você cria um equipamento público chamado pessoal , a prefeitura tem um limite para este tipo de gasto. Além de responsabilidade fiscal é uma lei que traz a obrigatoriedade do controle das contas, mas, não traz uma responsabilidade social. É criada uma escola, quadra, porém, se colocarmos um instrutor lá para orientar a comunidade, prepará-lo, capacitá-lo para atividade esportiva essa lei de responsabilidade determina que não se pode contratar.  Essa é uma trava de nossa legislação que às vezes cria dificuldades e um dilema que todo governo vive. Seria importante que além da entrega do equipamento, o poder público se fizesse presente atraindo, orientando e capacitando a comunidade para atividade física. Mas esse contratar de pessoal a legislação veda.

BM: Você como líder do prefeito tem a missão de trazer a defesa do executivo e aglutinar os vários pensamentos da base de apoio ao governo, partidos diversos de várias tendências ideológicas e comportamentos distintos. Qual o sentimento do vereador com relação a manter essa unidade para que os projetos sejam votados e as ações do executivo logrem êxito ?

FB: Nessa legislatura estive por duas vezes como líder do prefeito e agora à frente da bancada. O sentimento é o mesmo, temos um governo que trabalha e atua muito, mas, exerce pouco da relação política. E isso no convívio, na Câmara, como também na própria base é uma dificuldade. Temos um prefeito que trabalha como um leão, mas, seus secretários e coordenadores pouco interagem com a sociedade e base política, isso remete uma dificuldade de relação. E aí em alguns momentos a Câmara cria uns tensionamentos motivados pela ausência desses agentes políticos na relação dentro do governo. Apesar disso, hoje, o prefeito não encontra dificuldades para votação dos projetos na cidade porque passamos na história por um período em que Câmara era cega aos desejos da sociedade e queria de todo custo fazer um enfrentamento ao governo. Na conjuntura atual não, existe por vezes um descontentamento, a crítica, mas na hora de votar os projetos tem sido aprovado com tranquilidade.

BM: Estamos vendo uma inquietação que transformou em um caldeirão a base do governo, o deputado Jean Fabricio já se manifestou que é um candidato nas próximas eleições, o próprio PSB almeja alçar voos mais altos  e quer também ser apoiado e não só apoiar. Evidente que o PV de uma forma discreta segundo seu perfil e o PTB de Irma Lemos que ainda não se sabe até que ponto se manifesta com essa insatisfação, todos tem essa busca natural por espaço. Chegou o momento de entregar o bastão para oposição ou você acredita que esse quadro será revertido e mantido o projeto iniciado em 1997 na nossa cidade?

FB: Primeiro é importante registrar que é legítimo que os partidos da base pleiteiem a cabeça da chapa para ter candidatos a prefeito. O que eu identifico são duas questões, nós ainda temos muito que oferecer a sociedade porque não identificamos nas forças de oposição algo novo. Na verdade, a oposição não apresenta uma agenda nova para a cidade, eles têm o desejo de querer nos derrotar na urna eleitoralmente, mas não oferecem uma alternativa. Uma autocrítica que faço é que estamos demorando de definir nossos candidatos. Como não escolhemos nosso representante, criam se as especulações e a agitação política porque nós não temos um ponto de convergência. Se não temos o candidato, os partidos da base aliada irão dialogar com quem? Então, automaticamente eles vão criar os seus espaços de disputa. Espero que até o final de dezembro tenhamos a definição do candidato a prefeito do Partido dos Trabalhadores (PT). Desta forma poderemos criar uma agenda de aglutinar forças, onde nesse momento se existe uma lacuna. Mesmo sabendo que nossa sigla terá candidato e que é o partido que coordena essa frente, temos que compreender que precisamos da definição de quem encabeçará a chapa. A partir daí, conseguiremos dialogar, e não desmerecendo de forma alguma os outros partidos que tem toda a legitimidade de disputar a corrida eleitoral, mas, poderemos chamar esses aliados que compõem a Frente Conquista Popular desde 1992 para o diálogo.