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“Eu era um vendedor ambulante na porta de uma escola quando fui convidado a participar de um festival estudantil que se organizava dentro dela. Lá tive o primeiro contato com a potência dos festivais e nesse contexto encontrei a primeira oportunidade de vivenciar a força da percussão na minha vida. Foi quando me encantei por grandes nomes que alí estavam, entre Chico Evangelista, Jorge Alfredo, Raimundo Sodré, Roberto Mendes e o nosso eterno e querido professor  Jorge Portugal – e todo um arsenal luminoso de estrelas que vieram conduzir e renovar a Música Popular Brasileira.

Vi que um cantor especial, que era Sodré, trazia com ele um poeta que dizia “moinho de homens que nem jerimuns amassados” e procurava entender o sentido da frase e porque aquilo me tocava tanto. Até que a própria música me levou ao estúdio WR, onde conheci o poeta que libertava os currais penosos do mundo. Ele, um escritor, professor, generoso com todos que a ele recorriam e que se encontravam na porta daquele estúdio. Queria uma letra bem feita? Corre que Portugal ajeita. Assim dizíamos.

E nossa amizade perdura por mais de quarenta anos. Pois esse professor nunca negou um ensinamento a quem queria aprender. E ele ensinava em qualquer lugar que estivesse. Observava atento as escritas e as traduzia, para que tudo caminhasse com alegria e educação.

Jorge Portugal é de extrema importância na minha cadência rítmica de escrita, não apenas porque corrigia, mas porque inspirava. Por sua capacidade acolhedora, por compartilhar seus ensinamentos e por deixar claro que cantar sua aldeia era uma forma de falar com o mundo.

Esse Santamarense nos deixa um imenso legado e seremos eternamente gratos à potência de sua existência. Foi essencial para que o Axé Music virasse a potência que é, até porque ele chegou primeiro. Uma poesia de pessoa.

Vai ficar uma grande saudade desse precioso cidadão do mundo…”

Carlinhos Brown.