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Por Marco Antonio Jardim
Se desassossego o meio do tempo que já passou?
Nessa era é um nem vai nem vou.
Ao que sei, não há nenhum assunto final pro tempo amadurecer.
Até me perguntaram se tenho medo de envelhecer.
Como, se não vejo sentido nem em morrer?
Mas aceito o convite pro vinho.
Colho as amoras do pé, mancho de tinta escarlate a roupa que vesti.
Camisa ensolarada sem mangas, short de listras púrpuras, sandálias rasteiras e um aceno de partir.
Tiro um pedaço de papel do bolso, confirmo o nome da rua, olho do alto do bosque, olho pra sua.
Daí sigo ao norte, pra onde aponta a sombra da sorte e o sol do fim do dia.
Antes passo no armazém, escolho umas palavras.
Deixo as vãs e as vazias, compro só as aspeadas.

Meu coração, tão luminoso, tão cheio de esperança, não há de, no caminho, fadigar.
Pode até ser que eu prove uma parte do mundo à sombra do pé de amoras silvestres.
Ou só um átimo suave de um segundo pra aguçar o paladar.
E o sol, ali, sempre a brilhar esse rumo carmim que nunca atravessei.
Ou dessa estrada é que transpõe o sol que nunca varei.
Também pode ser que eu esqueça meu tinto compromisso do ocaso.
Nestas horas, sento no barro do chão, colho amoras pretas e empenho a mordida da vida assim, com esse gosto de fruta agridoce escorrendo de mim.