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* Por Ronaldo Ferraz

Para muitos o título acima é estranho. Esclareço. 15 de Novembro é uma data emblemática. É o feriado nacional para celebrar o nascimento da república brasileira. É o dia da Proclamação, realizada em 1889. Para muitos brasileiros a data passa desapercebida. Não se tem muita ideia do que representou a mudança política da monarquia para a república. Não quero entrar nessa questão. Apenas deixo claro que o surgimento do novo regime, ainda que sem participação popular, quase no susto, articulado por poucos, representou uma proposta de mudança significativa na vida do Brasil.
Quem melhor definiu o que foi o nascimento da república brasileira foi o político e jornalista brasileiro Aristides Lobo. Testemunha ocular, assim se expressou em artigo publicado no jornal Diário Popular, em 1889: “O povo assistiu bestializado à proclamação da república”. Bestializado é a reação de quem não acredita, está em estado de espanto, não conseguiu entender racionalmente. Dormiu-se na monarquia, acordou-se na república. Assim, como num passe de mágica. Mas qual o problema disso? O problema é que, como afirma José Murilo de Carvalho, um dos maiores especialistas no tema, também responsável por resgatar a frase de Lobo em seu belo livro” Os bestializados”, a palavra República foi por muito tempo o símbolo exclusivo das aspirações democráticas. Foi a expressão máxima dos que acreditam na participação popular, na política construída e feita para o povo e com o povo. Foi sinônimo de cidadania.
O próprio José Murilo de Carvalho nos dá uma ideia muito clara do que é ser republicano. Em texto muito apropriado para o atual momento que vivemos no país, ele afirma: “Ser republicano é crer na igualdade civil de todos, sem distinção de qualquer natureza. É rejeitar hierarquias e privilégios. É não perguntar: ‘Você sabe com quem está falando? É repudiar práticas patrimonialistas, clientelistas, paternalistas, nepotistas e corporativistas. É acreditar que o Estado não tem dinheiro, que ele apenas administra o dinheiro pago pelo contribuinte”. Ser republicano, acrescento, é saber que toda ação política deve sempre ser pensada no público, no todo, na maioria, no coletivo.
Não foi isso que aconteceu. Ainda não acontece. Nos anos seguintes, nas décadas seguintes, o povo continuará a assistir bestializado vários dos acontecimentos marcantes em nossa história. Lembro alguns: Canudos, Revolta da Vacina, Revolta da Chibata, Estado Novo, Golpe Civil Militar de 1964, Golpe Institucional de 2016, Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista. E assim vai-se construindo nossa história e república. Bate-se antes, pergunta-se depois.
No nosso microcosmos, assistimos o desenrolar dos fatos. O fechamento do Colégio Nilton Gonçalves. Mais uma vez a parte é uma pequena representação do todo. Não se considerou a vontade popular. Não se agiu republicanamente. Não estamos sendo dramáticos. Convido os leitores desse texto a conhecerem as comunidades do Nenzinha Santos, Bruno Bacelar, Alvorada, Nossa Senhora Aparecida. Quem sabe não engrossem o grito, o desejo do Dia da Proclamação em que se proíbe fechar qualquer escola.

* Ronaldo Ferraz é professor do Colégio Estadual Nilton Gonçalves.