Padrinhos
O que é serem padrinhos?
O nosso povo, na sua maioria, professa a fé católica, cujo sacramento do batismo alberga uma figura tradicional que é os padrinhos. Um casal, por consideração, aproximação e respeito, convida outro para que batize seu filho e, muitas vezes, sem noção do real significado. Numa época difícil para a religião católica, dominada por filosofias outras de vida, ideologias, nasce a figura dos padrinhos, há muitos séculos, querendo, além dos compromissos dos pais, mais um casal com a responsabilidade de conduzir o rebento nessa fé e ser para a vida, na falta dos genitores, a substituição dos mesmos para a vida.
A Igreja, através do seu Código do Direito Canônico, criou algumas normas para que se escolham os padrinhos do batizando. Obviamente que sejam católicos confirmados e já tenham recebido a Santíssima Eucaristia, e leve uma vida com fé e o conhecimento do que irá desempenhar.
Padrinhos são como pais, como segundos pais, com as devidas obrigações e devem-se manter sempre e para sempre na vida dos afilhados.
Ser padrinho ou madrinha é estar presente em todos os momentos importantes; é cuidar, proteger, acarinhar, procurar, preocupar-se, ou seja, estar absolutamente presente na vida dos afilhados.
Ser padrinho ou madrinha é ensinar, é ser um motivo de respeito e orgulho, é sentir, é ser um porto seguro na vida dos afilhados, proteger e educar.
Ser padrinho ou madrinha é um privilégio enorme, é um ato de grande importância e responsabilidade, não é coisa de um dia, de um só dia de festa, mas sim de uma vida inteira.
Quem aceita este desafio e esta responsabilidade o faz para sempre; portanto sua tarefa de amor, companhia, cuidado e orientação não acabam quando seu afilhado se torna adulto, mas continua durante a vida inteira, essa é a sublime idéia.
Na minha infância na roça, especificamente em Veredinha, em determinados dias, andava muitos quilômetros só para pedir a bênção e beijar as mãos dos meus padrinhos. É com pesar que vejo esses pequenos gestos se perderem diante de uma vida atribulada e sem conservação das tradições. Tradição salutar, que demonstra respeito, amizade, consideração e afeto.
Meus padrinhos, Roque Araujo e minha madrinha Dila, têm por mim o mais puro afeto, apesar da dificuldade de estar sempre em contato, mas guardo profundamente o afeto de épocas quem que nos víamos com freqüência.
Hoje o meu padrinho tem 92 anos e minha madrinha 85. Ele ainda trabalhando no momento de sol a pino em sua rocinha, e ela cuidando dele, das tarefas da sua casa, dos cuidados com sua família. Quando os encontro, é um momento de muita emoção, de carinho, de choro, de histórias e uma demonstração de um grande afeto mútuo.
No dia 15 de agosto próximo passado, foi o aniversário do meu padrinho e fui vê-lo no dia 16 à tarde em sua fazendinha e o encontrei debruçado em uma foice a trabalhar em sua propriedade; então me emocionei. Ele é uma raridade na sua idade, raridade na sua saúde, raridade em estar trabalhando e criticando a situação dos dependentes de ajuda do governo e que não querem trabalhar, ainda trazendo, a rebote, uma família de preguiçosos e acomodados.
Não posso falar do meu padrinho Roque, sem falar na minha madrinha Dila, são lindos, são gente, são exemplo de vida na sua simplicidade sem querer mais. É o entendimento da passagem pela terra, priorizando o viver bem, ter alegria, servir e cuidar de sua família, mas com o perfeito entendimento de que cada um tem que fazer o seu caminho.
Meu padrinho Roque, é também meu tio, irmão de minha mãe. Depois de longas conversas sobre a dificuldade da sua juventude junto com minha mãe, a amizade desde a infância com meu pai, me convidou para conhecer a sua propriedade, o açude que ele fez no braço com a idade de 80 anos, pelas cercas da propriedade que ele fez, com suas plantações me fez um desafio para que eu dissesse como era o nome daquela frondosa arvores, fiquei sem saber. Meu padrinho foi no chão e pegou uma semente e me pediu para que colocasse na boca; vindo a identificar, era imburana. Entusiasmado, perguntei: “meu padrinho, porque não empacota e vende, pois apuraria um bom dinheiro”.Veio a resposta prontamente, “meu filho, eu só vendo se precisar, como não estou precisando, deixa aí para quem quiser pegar”.
Meu padrinho e minha madrinha têm uma história digna de se escrever. Uma história de luta, de fome, de sacrifício, de ajudar as pessoas, de buscar, na luta, criar seus filhos e netos e do seu profundo amor pelo seu passado. Um passado de muito sofrimento, de muita luta, de muita fome, para chegar a um ponto de suas vidas.
Trabalhando no DNER durante toda sua vida, quando ele aposentou, quis ter um trabalho e não queria ser empregado de ninguém. Com certo valor recebido a duras penas na sua aposentadoria, abrindo mão de comprar algum bem para o conforto, adquiriu uma terra na seca caatinga, onde nada tinha e, com seus braços, fez tudo o que lá tem hoje. Aos meus olhos, fez muito; um exemplo sem precedente e até os dias de hoje, com seus 92 anos, ainda trabalha na propriedade e – o mais importante – com muitos planos para o futuro.
Agora que descobri onde eles ficam, não vou abrir mão desse convívio, vou estar mais perto deles, pois é uma dádiva essa oportunidade. Independente de religiosidade, da fé católica, são pessoas que, um dia, se achegaram a mim, e o título respeitoso e a dádiva do apadrinhamento fizeram nascer esse amor entre nós. Ficamos muitos anos sem contato, no meu caso especifico devido à luta para criar minha família, a luta pelo meu trabalho. Hoje, com certa estabilidade e com o meu crescimento espiritual e a busca por verdadeiras obras da vida, alinhadas com a simplicidade e com o amor, quero estar mais perto deles.
A bênção, meus padrinhos!
Lindo texto.Padrinhos quem os tem merecem este carinho.
Faça merecer esta proximidade.Dar atenção e amor nunca é demais agora tem há tempo.Fazer o bem faz bem.Fiquem próximos são sua Familia.
Parabens amigo,como sempre nos emociona pelas belas falas,em que externa sentimento humano.
são meus pais,pessoas humildes mas de carater…..Herança que deixará para seus filhos netos e bisnetos…o amor,a humildade e o bom carater…
Parabéns lindo texto, emocionante! Grande abraço!
Lindas palavras. Tenho um carinho muito grande por meus padrinhos, João e Neci, a quem tenho muito respeito e admiração. Muito bonito de sua parte escrever este texto falando da importância padrinhos nas nossas vidas.
A ênfase e o reconhecimento dados às relações calcadas, pura e simplesmente, em confiança e verdadeira amizade, vêm sempre bem a propósito numa época em que os valores mais simples e legítimos têm sido, lamentavelmente, descartados por tantos.
Ser escolhido(a) para ser padrinho/madrinha é, de fato, uma honra e uma grande responsabilidade. Mas, como pode ser constatado no decorrer de todo o texto, o que mais se destaca são os laços de amor, respeito e carinho mútuos que, mesmo à distância, são mantidos incólumes, na maioria das vezes, durante toda a vida.
Excelente texto – A responsabilidade do batismo.
Esses são os meus avós, tenho orgulho do que são, do que se tornaram e de como moldaram nossa família com união, respeito a amor incondicional.