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 Foto: Blog da Resenha

O presidente da Cooperativa Mista Agropecuária Conquistense (Coopmac), Jaymilton Gusmão, já está se preparando para segunda edição da Expoconquista sob o seu comando e disse que acredita na força do expositor e promete muitas novidades para o evento.

BM: O sol inclemente se abateu sob nossa cidade e região sudoeste. Qual a sua expectativa para essa nova jornada que se aproxima?

JG: A maior dificuldade que encontramos é a crise hídrica, essa falta d´água. Estamos no quarto ano consecutivo de seca bastante acentuada e nossa economia depende muito da agropecuária. O café que é o carro chefe aqui de Vitória da Conquista está nos preocupando bastante porque nos últimos anos o aumento do custo foi absurdo, os agroquímicos, a mão de obra e combustível, elevaram bastante e não conseguiram reverter isso para produção. A produtividade está baixíssima e não conseguimos fazer um produto com a qualidade que gostaríamos. Fatores como a falta de água dificultam de se fazer a irrigação e prejudicam demais as atividades até no planalto. Os bancos estão apresentando bastante dificuldade, os juros são elevados e o cafeicultor já está endividado por conta desses fatores do alto custo da lavoura e a remuneração que não cobre nem os custos dos produtos. Mas, o clima é o fator preponderante para essas lamúrias que a agropecuária regional vem apresentando.

BM: Nós temos aqui em Conquista além da prefeitura, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e a Coopmac que são as duas principais entidades de visibilidade que influenciam bastante na vida e economia da cidade. E você sucede o antigo gestor Claudionor Dutra e evidentemente com o seu perfil diferente de administrar. O que você apresentaria para seus associados, pares de diretoria e comunidade de Conquista?

JG: O foco dessa diretoria que está há um ano e oito meses à frente da cooperativa foi resgatar a história e a representatividade que a Coopmac sempre teve na economia. O órgão estava meio sem foco e esse choque de gestão foi preciso até para dá um ânimo novo, as pessoas que estão à frente hoje pensam diferente. A gente quer colocar a cooperativa não só como uma empresa de sucesso, mas um  órgão de representatividade política, e quando falo nesse quesito, digo, não sendo partidária,com a representatividade que ela sempre teve nesse âmbito, o homem do campo tendo voz. Na política atual, caso você não se organize e se adapte aos novos tempos você tá fora, e a Coopmac vinha se perdendo até por conta dos débitos e da situação financeira que perdurava aqui nos últimos anos. Nosso objetivo é quitar todos os débitos municipais e federais, fazendo da própria cooperativa uma força de representação, pois, existe um preconceito com o produtor rural, as pessoas tem outra visão da situação, acham que o produtor muitas vezes é milionário e está explorando as pessoas. Na verdade o produtor rural, hoje, respeita o direito de todos os trabalhadores e paga seus impostos. Só que ele fica com todos os riscos, aqui mesmo acompanhamos todas as situações diariamente desses produtores rurais. Posso garantir que o nível de endividamento, fazendas hipotecadas, situação até de desespero e débitos impagáveis envolve muito desses cidadãos. A função da cooperativa é dar voz, fazer coro com esses produtores e mostrar nossa realidade. A Coopmac completou recentemente 65 anos de cooperativa e as pessoas que por aqui passaram por muitos anos eram os líderes da cidade. O nosso órgão tem que ser parceiro do poder municipal, estadual e federal, óbvio tendo a liberdade de identificar e de pontuar o que for essencial para o produtor rural, o homem do campo de uma maneira geral.

BM: Quando você fala dessas dívidas da cooperativa evidentemente é a respeito da questão dos impostos. O governo federal e municipal foram sensíveis a esses pleitos da Coopmac agora sob a sua presidência?

JG: Os débitos não só de impostos, mas, de gestões desastrosas que não tiveram austeridade de todas as formas. A gente sabe que imposto federal principalmente, só se consegue algum tipo de desconto em lei. Tivemos a sorte em 2014 de ter uma lei do Refis e a Coopmac aderiu e eu imagino que se não fosse esse projeto seria difícil a quitação de todos os débitos. Já foram consolidados os débitos não tributáveis, optamos por pagar em 120 parcelas e estamos hoje totalmente adimplentes. Em relação ao município foi a mesma coisa, tínhamos R$ 4,5 milhões de dívidas entre IPTU e ISS que já foi arrumado, mas, não tivemos dificuldades em negociar também com a prefeitura, pelo contrário, a equipe de governo juntamente com o prefeito Guilherme teve essa sensibilidade porque se não virássemos essa pagina e encarássemos de frente a cooperativa estaria quebrada. Como várias outras cooperativas que estão em situação de penúria praticamente quebradas.

BM: Quando você coloca que as cooperativas estariam quebradas, você acredita que seria indiferença das administrações? Seriam elas viáveis desde que fossem pagos esses compromissos mensais e anuais em dia?

JG: O cooperativismo é uma doutrina que nem mesmo eu conhecia profundamente, e hoje eu posso dizer com toda certeza que é o instrumento mais forte de transformação da vida das pessoas e em todos os segmentos. Acontece que nós somos humanos e algumas pessoas se utilizam dessa cooperativa como uma blindagem, e ela não foi feita para isso, no cooperativismo, o ideal é que todos ganhem. Alguns gestores não entenderam a função do cooperativismo que é distribuir sobras, dividendos e recursos entre os associados que fazem um ato em comum. Qual é nossa atividade em comum? Aquisição de insumos, na parte de café, de beneficiamento e rebeneficiamento. Em curtíssimo prazo faremos o setor de comercialização para que o nosso associado possa pôr preço em seu produto. Temos cafés goumerts, familiares, uma variedade comercial e apenas as cooperativas têm essa credibilidade junto às instituições internacionais para garantir esse tipo de produto. Até os nossos próprios associados não sabem de verdade qual é o espírito do cooperativismo. Nosso intuito é mostrar para nosso associado e a comunidade que temos muito a contribuir principalmente na área  de alimentos, de forma sustentável, na distribuição de renda e contribuir com nossa economia regional.

BM: O Teopompo de Almeida que deu nome ao Parque de Exposições, ele era um mineiro que trazia seu gado e expunha aqui e fazia o comércio entre os fazendeiros. Aí a origem principal da Coopmac, os fazendeiros de gado. Então, essa trajetória até certo tempo foi fidelíssima a essa realidade fazendeiros, a sua própria família que sempre mexeu com campo e comercio de gado. A cooperativa pode ter se perdido em ter aberto espaço para diretores ou presidentes que não tinham essa relação tão estreita com o campo?

JG: Correspondeu à realidade da época, não podemos olhar para trás e colocar toda culpa em ninguém. O que aconteceu era realidade de momento, a gente tem no quadro da nossa cooperativa diretores que possuíam cargos tanto no poder municipal quanto estadual. Hoje a realidade é outra, a fazenda e o campo não pode ser daquela forma como considerávamos romântica. A propriedade rural é considerada como empresa assim como qualquer outra e se você não tiver austeridade para gerir controlando os custos, você tá fora. É muito fácil uma cooperativa hoje falir e por ter muitos donos as pessoas não tem noção do que é o cooperativismo. A gente está muito satisfeito mesmo com o pouco tempo de administração, pois, já temos um norte. Estamos agora nesse mês de dezembro organizando uma turma para fazermos o nosso plano estratégico para os próximos 20 anos. A gente quer deixar aqui um plano, não só para nossa administração, como para as outras administrações para que se tenha um norte de onde se possa caminhar.

BM: Eu conheço parques das cidades de Montes Claros, Goiânia , Governador Valadares e eles fazem parte do contexto do centro da cidade . Algumas pessoas falam que Vitória da Conquista tem seu parque no centro e que incomoda, não falo nem de show, falo da realidade da Coopmac. Esse seria um motivo para cooperativa sair desse local diante dessas evidências e crescimento da cidade? Já perdeu o sentido o parque aqui ou você acha que ele não influencia em nada e deve continuar no mesmo local?

JM: O Parque de Exposições pertence à cooperativa desde 1968 e foi uma doação da associação rural que aqui existia para a Coopmac. A gente sabe que o espaço era totalmente diferente e a cidade cresceu para cá, o que sabemos e acreditamos é que a parte industrial deva mudar isso é um planejamento nosso, até porque entendemos que o tráfego de caminhões fica complicado. Já no que diz respeito à parte de lazer temos um termo de ajuste de conduta junto à promotoria e cumprimos rigorosamente o que determina o TAC. O que fazemos é adaptar as normas e procedimentos que são exigidos, temos uma área destinada a eventos que tem todos os alvarás e certificações que permitem a realização de eventos naquela área. Por estarmos no centro, somos fiscalizados quase que semanalmente e rigorosamente por esses órgãos que realizam um excelente trabalho. Essa área do Parque de Exposições tinha que ser usada com mais frequência e dar para cidade essa opção de lazer. Essa discussão de mudança não nos convence, primeiro que vemos no Brasil vários outros parques que são no centro da cidade e que convivem perfeitamente com a urbanização.

BM: Caso a Coopmac recebesse uma proposta de vender uma parte do Parque de Exposições para ficar totalmente adimplente, isso poderia passar por uma análise da diretoria?

JG: Isso já foi aberto em assembleia, onde vai ser aberta uma rua paralela a Siqueira Campos e nós disponibilizaremos uma área para quitação inclusive de nossos débitos. Fizemos uma auditoria e isso é público e notório, já foi falado sobre um débito de 18 milhões de reais. Dificilmente conseguiríamos pagar se não fosse desmobilizando alguma área, esse projeto já foi acatado inclusive pelo poder municipal, estamos esperando agora a assinatura dessa liberação por parte da prefeitura para construção de uma nova rua, o prolongamento de uma rua paralela a Siqueira campos.

BM: A relação da Coopmac,a prefeitura e o Estado como é que ela ocorre?

JG: Com a prefeitura é a melhor possível, estamos no mesmo ambiente e participamos da mesma discussão e do encaminhamento como um todo. Com Estado, a relação é institucional e de parcerias, porém, foi muito pouca a participação do Estado na exposição deste ano, no entanto, a gente entende as dificuldades de aporte e de apoio financeiro desta entidade. Estamos lutando com a participação bastante efetiva do Estado em nossa exposição exatamente para que ele demonstre o apoio que precisamos. As instituições tanto municipal quanto estadual tem que nos ouvir, pois, nós temos representatividade e sabemos a realidade que o produtor tá vivendo.

BM: A exposição do próximo ano deve ser marcada entre os dias 11 a 20 de março. Você já tem algo palpável para a exposição inclusive para propagar com os expositores e a população?

JG: Nós já começamos as tratativas sobre a exposição de 11 a 20 de março, será especial porque irá comemorar o cinquentenário da exposição (bodas de ouro) e deve ser no mesmo formato de 2015, com shows e exposição animal. Baseado na questão genética, queremos trazer os organismos e instituições que trabalham com genética animal tanto na parte de bovinocultura do corte e do leite como na equinocultura. Temos a presença confirmada do presidente da BCG, Edvaldo Paranhos, um grande criador de gado nelore que  tem o programa de melhoramento genético onde ele vai trazer e explicá-lo para as pessoas daqui. Sabemos que a exposição envolve toda cidade, então, trazemos o campo, a indústria e o comércio, entretenimento e a prestação de serviços. A cidade pode esperar que o evento ficará pra história com certeza.

BM: Conquista ao longo desses governos municipais teve administrações de todos os matizes, mas, as pessoas dizem que a cidade acontece independente de seus gestores municipais. Isso ocorre justamente por essa vocação, essa tradição empreendedora de nossa população? Ou os governos são os responsáveis por esse sucesso?

JG: Na verdade é a simetria, Conquista tem uma localização privilegiada e temos um histórico de governos que geriram a cidade com bastante austeridade trazendo realmente confiança para quem quer investir. Uma coisa complementa a outra, temos empresários aqui de imensa coragem empreendedores e de altíssimo gabarito,mas, tem que se ter confiança no poder público e se a cidade não fosse alicerçada nessa austeridade em que ela se encontra, com certeza os investimentos não ocorreriam como ocorrem. Vitória da Conquista vem se preparando ao longo dos anos para um grande crescimento. A gente que viaja por essas cidades da Bahia é difícil encontrar uma cidade com a pujança da nossa, temos problemas difíceis também para serem resolvidos, mas precisamos sentar e debater num planejamento o que a cidade quer daqui para os próximos anos. Essa discussão tem que ser ampliada em todos os segmentos, escolas, empresariado, trabalhadores e comunidade em geral.

BM: O seu nome já foi ventilado pela densidade que ele alcança e poderá ter uma aceitação a sucessão do governo do prefeito Guilherme Menezes. Qual a sua visão sobre essa situação?

JG: Eu acho bastante normal que isso aconteça, eu nasci aqui em Vitória da Conquista, meus pais são conquistenses e boa parte dos meus parentes também, morei fora para poder estudar, fiz faculdade fora e voltei, mas essa visibilidade que a cooperativa dá, a mídia, e a importância a que estou encarregado hoje acaba atraindo os olhares. Isso é normal, as pessoas querem novos nomes e opções que participem da vida política e a gente sabe que o nosso município é um grande tabuleiro em que cada jogada tem uma consequência lá na frente. Mas, lhe falo com toda tranquilidade, eu tenho um compromisso com meu mandato e a minha diretoria ainda não realizou o que nós prometemos, temos mais um ano e meio de mandato para fazer muito e acho que minha responsabilidade e objetivo é finalizar esse mandato como nós assumimos. Você fica até envaidecido por certos convites, porém, nunca passou pela minha cabeça a ideia de ser prefeito ou administrar a cidade.