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                  Foto: Arquivo Pessoal

Cassiano Ribeiro, uma pessoa destacável e de uma inteligência inigualável e que a sociedade, pelo menos que ainda não teve a oportunidade, precisa conhecê-lo.

BM: A nossa querida Itambé que você aproveita e faz referências a mim, quando você lembra daquela cidade acaba se lembrando de um passado não muito distante, mas que foi bacana. Por que Itambé?

CR: Itambé representa no meu imaginário um período de formação que é imprescindível no trabalho de todo artista, porque todo escritor tem que ter entre outras criações dele, de gêneros diversos, uma identidade. E essa identidade você encontra nos primeiros anos de vida. Então, sou aquele “menino de rua” de Itambé, de beira de rio, cheio de artes e de poucos recursos, dentro de uma sociedade agrária de valores tradicionais e de muita perversão também, como válvula de escape de um mundo asfixiante. Eu tento traduzir isso em filosofia e literatura tentando dar uma vestimenta e conotação universal que possa agradar aos conquistenses, aos soteropolitanos, aos cariocas e ao mundo. Porque todos nós trazemos uma Itambé, uma Vitória da Conquista, todo escritor tem no seu imaginário um berço que é motivo inclusive da nostalgia.

BM: Interessante que esse menino de rua do qual se refere pode assumir uma conotação de um andante ou um excluído. Mas, no seu caso, essa palavra foi empregada para descrever um menino que tinha liberdade?

CR: Não só essas situações, como também com liberdade para fugir com uma corista de circo, a qual me apaixonei, e os meus pais foram de carro me apanhar numa cidade bem distante porque estava encantado por essa moça e queria morar no circo. É o menino de rua não estereotipado, vitimado da sociedade, com excesso de liberdade, um menino que a casa não cabia, pois, tinha tempo para viver a casa, a família e o mundo da empiria selvagem, que só nos pistoleiros e “puteiros” do sudoeste fui realizar.

BM: Hoje temos um menino totalmente prisioneiro, refém dos computadores, do celular e nem pisa no chão. Qual a diferença?

CR: Profundas diferenças na subjetividade, no tipo de cidadão inclusive, mas, não quero aqui condenar e estereotipar o menino moderno. Porque essa criança tem novos agenciamentos, tem o convívio com o silício e a máquina que produz a ele universos virtuais que outras crianças não possuem. Ele tem um videogame, o cinema e ele tem também uma nova subjetividade, mas, sustentando ainda que existe um estofo comum a todos os homens e gerações, que Fernando Pessoa chamava de “a alma funda de origem divina”. Somos todos irmãos em qualquer época, essa é minha crença, e um sonho de que o homem é um ser universal, porque eu não quero viver de metamorfoses e transformações. Sou conservador, acredito na essência, na alma humana e que o homem tem jeito. Inclusive, esse menino hoje hightech, geek, ele não está condenado, e a vida vai dá possibilidade de ele viver e se tornar safo.

BM: Você então acredita que seja apenas um saudosismo da gente que conviveu em outro período e, portanto, o menino de hoje estaria em seu ambiente natural?

CR: Essa nostalgia fica muito clara de que ele é uma construção, invenção da nossa ‘psiquê’, a gente supõe que nossa infância foi dourada e encantada. A criança por não ser dona de seus afetos e de sua vida, ela é dependente de outros e não tem a liberdade. Nenhuma criança pode ter a liberdade e a felicidade que o homem adulto tem, sendo senhor de seu destino.

BM: Recentemente recebi a ligação de uma grande figura, Luiz Cláudio Sena, que faz parte de uma família de privilegiados e de uma inteligência rara. É um clã de inteligências que a nossa cidade precisa conhecer e degustar. Seria uma honra que você pudesse conhecê-los para que de longe eu pudesse apreciar esse debate de ideias.

CR: Seria uma honra porque preciso de aliados, agenciamentos, amigos, e de contestações, críticas durante o processo de crescimento e produção de uma obra. Vitória da Conquista tem muita gente esperta, estudiosa e que está desfocada porque não há um viés de exibição e conversão dessas pessoas, por conta da configuração do mundo moderno e também de uma questão histórica, que só se agravou com o passar do fim dos anos de alienamento que ficou em nosso povo. Mas é importante criar nichos, meios para que as pessoas possam interagir e formar uma cidade forte, porque a base da civilização na Grécia, não por acaso, é a cidade, o municipalismo. Conquista precisa romper sua subserviência e escravidão a grupos políticos maiores do Estado e da Federação e ser uma cidade autônoma, independente, com seus cidadãos conquistenses de cabeça erguida, unidos em prol da alta cultura para dar um fim ao folclore bestial de cultuar populacho.

BM: Você acha que o debate é salutar e propicia as pessoas a aguçarem os seus pensamentos e as suas ações depois de ouvir os dois lados?

CR: Necessário, porém, com uma ressalva, nós não somos dialéticos. Eu não acredito que a verdade seja um fruto da troca de opiniões. A verdade, um dos primeiros atributos dela é que ela é simples, sendo simples, não pode ser composta. Ela não pode ser uma somatória de opiniões diversas, você tem diversas opiniões e isso configura um espaço onde você debate ideias. Mas, a opinião, uma delas vai dominar e vai ser a verdadeira que vai se impor sobre as outras. Vai haver sempre uma opinião mais clara, transparente e pertinente que vai sobressair, então, não é pelo consenso, este é uma ilusão. Precisa-se ter um debate, diálogo profundo para que a opinião mais forte vença e se imponha. Nesse ponto sou um homem de opiniões fortes, pois, procuro ter um posicionamento que resista as agonias e conflitos que apareçam na sociedade. É importante o diálogo, não que disso nasça a verdade, pois esta, nasce de outra dimensão.

BM: Nós estamos numa discussão de modelo político, há uma insatisfação não diria generalizada, mas, observa-se que grande parte da população brasileira está insatisfeita. Diria que seja na verdade uma questão ideológica. Como você define esse momento?

CR: Nós estamos vivendo o presente e ser um historiador do presente é muito melindroso e muito difícil, precisa de uma sensibilidade especial e um discernimento incrível. E eu sou muito apaixonado para poder ter esse distanciamento. A insatisfação que existe na sociedade é porque o governo não tá conseguindo impedir que sobre ele se canalize todas as frustrações que são das mais diversas estirpes. Temos insatisfações com o modelo pedagógico, educativo, cultural, econômico, social, tudo isso se convergindo para o governo. Dilma está se apresentando como um trator e um capacitor de energia ruim. Eu ainda acredito que é possível uma saída civil porque se não for, vai ser necessário que os militares intervenham ou pode se gerar uma guerra civil que nós sabemos quão ruim e calamitosa é essa situação. Todos os países que passaram por conflitos desta natureza, a exemplo da Síria, sofreram bastante e nós não queremos isso para nosso país. Estamos reféns da história, o Brasil está à deriva e não vejo ninguém que possa tomar o rumo do país.

BM: Quem seria a solução para o nosso país, já que a presidente não está sendo?

CR: Para o Brasil acredito que seja preciso um estado de choque, uma intervenção, um estado de exceção, como diz o filósofo George H. Bender. Romper de vez com tudo que está aí, fazer um saneamento e os militares é que tem tecnologia, tradição e confiança para fazer um processo de transição e recomeçar do zero, adquirindo a confiança do povo e construindo um grande país que é possível.

BM: E caso os militares cerceassem o seu direito de expressão e de ser reunir?

CR: Temores existem e são da natureza humana, não que eles sejam fundados. Com os militares no período recente que eu convive não houve esse cerceamento, a exemplo, de Chico que falou o que bem entendia, inclusive fez música para filha de Geisel. Muitas pessoas viajavam para o exterior para tirar a chinfra de exilado porque era charmoso. Hoje existe um cerceamento, a imprensa não está explicando a greve dos caminhoneiros em sua real dimensão e alguns veículos tem alinhamento com o poder. Eu acredito que liberdade de expressão não é algo gratuito, assim como nenhum tipo de liberdade, ela é conquistada pela potência, força de expressão, estilo, estudo e fundamentação. Portanto, qualquer que seja o regime, quando você tem fundamento, recursos, potência de pensar você expressa sem obstáculo nenhum. Agora se você não tem condição de expressar e é um mero repetidor, “papagaio” de opiniões feitas pela mídia vulgar, não vai encontrar em lugar algum espaço para que ela se propague. Não é questão de o militar ter muita ou pouca autoridade é uma dinâmica interna do próprio pensamento. Não tenha medo, pois, com ele no poder haverá mais cultura, pensamento, expressão e liberdade, poder sair de casa sem medo, dormir com a janela aberta, conversar até mais tarde na porta de casa e não ter tanto receio de ser roubado ou assaltado. Apesar de vigiada é uma liberdade responsável. Não é anarquia, isso sim é perigoso, iguala você a um bandido submetido a um estado que não tem critério e nem valores. Eu particularmente espero dos militares uma atuação condizente com sua história, eles participaram de importantes momentos na história e tiveram representatividade. São eles o verdadeiro quarto poder moderador, o freio de “arrumação”. Chega uma hora que a confusão é tão grande que alguém precisa pôr esse freio.

BM: Mora na filosofia pra que rimar amor e dor. Decifre, por favor!

CR: Você tomou o meu lugar de filósofo porque acabou sendo poeta no momento que estava sendo extremamente belicoso, e puxou meu tapete (risos). Vou ficar te devendo um replique, poesia é isso, você soltar um verso e outro emendar.

BM: Aproveitando que tocamos nesse assunto, quem é Bolsonaro pra você?

CR: Ele representa algo imprescindível nesse momento que é uma chama de fanatismo que se precisa para combater o fanatismo obsceno da esquerda, que diz que Fidel Castro é um anjo e Che Guevara um semideus. Não que ele tenha trabalhado para isso, mas, quando ele é chamado de mito nos lugares por onde passa, ele está capitalizando essa aura mítica de um redentor, ao contrário do que os nacionalistas falam que é ruim, é necessário para agenciar, magnetizar o povo inteiro em torno dele. E a partir daí, se construir um estado racional e uma política através do diálogo e da reflexão. Ele é o vetor que fará o povo se reunir em torno dele para pôr um fim a esse bolivarianismo medonho e de gosto maldoso que se instalou na América Latina, onde não se vê em tempos atuais nenhum intelectual ou pensador de respeito. Uma sociedade de homens fortes é independente e não agrada os tiranos, então, para o PT e o governo atual não é interessante que os cidadãos de bem se unam.