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                                     Foto: Ascom Câmara

Gildelson Felício atualmente responsável pela Secretaria do Trabalho, Renda e Desenvolvimento Econômico, atuou na década de 80 juntamente com amigos e comunidade estudantil no lançamento do grupo “Coração de Estudante”. Foi uma época brilhante em Vitória da Conquista e que culmina hoje com alguns desses membros, dentre eles você, destacados no cenário político municipal.

BM: Isso foi uma prova de que foi construído algo que foi materializado?

GF: A gente sempre lembra com muito carinho da nossa formação dos anos 80, felizmente fim do regime militar, então aquilo foi um aprendizado para todos nós que ao longo da vida crescemos e amadurecemos num caminho reto e sabendo o que queríamos de nossas vidas. Buscamos contribuir com os avanços da cidade e do Brasil, temos o privilegio de fazermos parte de uma geração que está todo mundo atuando em suas profissões e cuidando de seu dia dia e família, mas também com olhar carinhoso para contribuir com o avanço de Vitória da Conquista. Todos de um modo geral mesmo alguns em partidos diferentes, mas, pensando no bem comum e uma postura coerente com o que defendíamos desde a juventude. Nós, que enquanto grupo nunca mudamos de lado, trilhamos como objetivo único o bem estar de Vitória da Conquista e das pessoas do Brasil.

BM: Naquela época, Pedral se colocava como principal líder político da cidade, tínhamos também Sebastião Castro, Elkson soares, o próprio Jadiel Matos e tantos outros. Gildeson e seu grupo surgiu como uma força capitaneando a juventude, e as mudanças aconteceram naturalmente. Hoje você compõe o Governo Participativo, liderado pelos deputados Valdenor e José Raimundo, além do prefeito Guilherme Menezes.

GF: Massa, foi realmente um aprendizado naquele período, tivemos essa oportunidade de militar junto com Pedral que foi dos que não estão vivos ainda (in memorian) a maior liderança politica de todos os tempos de Vitória da Conquista. Pela questão histórica, sendo caçado pelo regime militar em 1964, uma referência da oposição no cenário político da Bahia e que não se curvou ao regime deixando o seu legado. Não fazendo aqui uma avaliação da sua última administração em que ocorreram problemas, convivemos também com Murilo Mármore que foi um bom prefeito. Então, além da militância no meio da juventude nós construímos o PSB aqui desde 1989. Um partido aberto por várias lideranças que já participaram dela, inclusive Pedral e Murillo Mármore que eram filiados à sigla. Dois ex-prefeitos, e Jadiel Matos que veio a falecer sendo vereador do partido, foi o primeiro vereador eleito dessa construção do Partido Social Brasileiro. Mais recentemente outras lideranças, a exemplo, do vice-prefeito Joás Meira e Gilzete Moreira, somos um partido que dialoga com os diversos setores da sociedade.

BM: Eu lembro que à porta do Hotel Livramento aqui no centro da cidade, eu perguntei na época a um amigo se existia a possibilidade de Pedral e Murilo apoiarem ACM e lembro que ele me respondeu que não existia. Porém, foi o que veio ocorrer, se não foi apoio, mas, pelo menos uma aliança política. Foi por essa razão que ele teria sido desligado do partido?

GF: Poucas pessoas têm a memória política e a capacidade de entender que Pedral, no ano de 90, entrou no PSB. Quando criamos o partido de 89 para 90, eu fui para direção nacional do partido e fui coordenador nacional da Juventude Socialista Brasileira (JSB), sendo reeleito no Congresso Nacional e militando junto com lideranças que hoje são governadores, como o Rodrigo Rolemberg (DF), sendo o seu sucessor eleito no Congresso, junto também com o Lindemberg que hoje é senador, com ex-governador do Espírito Santo, Renato Casagrande e tantas outras lideranças nacionais. Naquela época, Pedral foi candidato ao PSB para ser o governador das oposições, inclusive com o apoio do PT e do PCdoB, foi uma articulação de todos os partidos. O PT que nunca admitia muita aliança foi convidar Pedral, mas, acabou não dando certo e Pedral  junto com Domingos Leonelli tiveram uma ideia que foi a criação da chapa das meninas, com Lídice da Mata, Bete Wagner e Salete. Então, por uma opção regional Pedral acabou saindo candidato a deputado federal, não ganhou, ficando na primeira suplência. A figura dele foi referência da esquerda até 90. Infelizmente já em 92 muitos segmentos empresariais, até mesmo da cidade, diziam que nada adiantaria ele ser prefeito sem o apoio do governador. Obviamente naquele momento ele fez uma carta compromisso, onde diria que se ACM fosse candidato a presidente da República, certamente o apoiaria, essa era a conversa que se tinha e o PSB não admitia uma aliança com antigo Arena que representava o regime militar, era uma resolução do diretório nacional do partido. Houve um embate interno, claro, ideológico e chegou-se a desligar Pedral do PSB. Depois disso, vem uma nova composição de aliança onde o PV coloca na linha de frente como candidato a prefeito Guilherme Menezes, junto com o PSB, PCdoB e PT que acabou tendo uma votação expressiva culminando depois com a vitória em 1996. E aí, de lá para cara temos Guilherme e Zé Raimundo participando da administração municipal.

BM: As defesas intransigentes que as esquerdas sempre fizeram ou mesmo a direita era que deveria ser todo mundo puro sangue. Nos tempos atuais vemos na base do governo nacional mesmo que não se sente a mesa para discutir estratégias, apoio de partidos para se ter a governabilidade dentro do Congresso que até então não imaginávamos essas alianças. Como você vê esta questão?

GF: Nós enquanto partido político, no PSB, apoiamos Lula nas três eleições em que ele perdeu. Oferecemos dois candidatos à vice-presidente no momento que sabíamos que era difícil de ganhar a eleição. Infelizmente quando Lula foi eleito, tínhamos um formato onde havia um núcleo de centro-esquerda com PSB, PT, PCdoB,PDT e esses partidos não davam tom a chamada governabilidade. Com a precisão de algumas reformas no Congresso Nacional e esse critério de governabilidade do segundo mandato de Lula para frente às composições se ampliaram demais. Hoje no Governo Federal quem dá o tom é o PMDB que não é um partido como todos os analistas políticos do Brasil dizem, mas sim, um conglomerado de interesses regionais. Então, o governo perdeu o rumo e o PSB tem essa posição de independência. Essa composição de centro esquerda se perdeu, não podemos mais dizer que o Governo Federal é comandado por essa postura por tudo que vivemos e trabalhamos no campo ideológico e de proposições para com os trabalhadores e a sociedade em geral. Essa é uma dinâmica da politica que não vemos com bons olhos, o PSB, prefere manter uma linha de independência aprovando o que for positivo para sociedade e reprovando aquilo que entender que não faz o país avançar nos interesses coletivos da nação.

BM: O PMDB sempre foi ainda nas épocas de MDB como um guarda chuva da esquerda abrigando outros partidos em dificuldades. Infelizmente o mesmo partido passa para o país hoje uma postura incoerente. Como você analisa essa situação?

GF: A gente que sempre defendeu o crescimento e espaço para juventude, não poderia negar o espaço para novas lideranças. Então essas figuras como Miguel Arraes, Brizola e Jarbas Vasconcelos foram gente de posição e ajudaram a construir a democracia. Infelizmente o que é triste hoje é saber que não existem novas lideranças como o mesmo perfil deles, mesmo com uma nova linguagem. O problema é que a reserva ética e moral ficou com alguns poucos do Congresso Nacional e nós não assistimos novos governadores que projetam liderança ou deputados e senadores com destaque nacional que tem uma vida política e pessoal reta em que as pessoas possam creditar confiança. A nossa liderança perdida ano passado foi uma fatalidade, com a morte do Eduardo Campos, que vinha com uma proposta de renovação política e uma metodologia diferente de trabalhar, mas, dentro de determinados princípios que comungava por essas velhas lideranças citadas anteriormente que sempre foram referência para a política nacional. A gente sempre brinca dizendo que quando os homens sérios abandonam a política se dá espaço para os malandros.

BM: Quando Lula assumiu o poder havia um ceticismo daqueles que pregavam uma mudança para um país mais justo e fraterno por políticos éticos. Havia um temor e certo preconceito e aqueles mais radicais diziam: “temos medo do vermelho do comunismo”. As pessoas atualmente já temem o espírito aguçado da direita mais conservadora e até clamam e pedem por uma intervenção militar.

GF: Alguém pedir hoje o retorno do regime militar seria algo que classificaria insano. Com todo respeito à liberdade de pensamento, mas, só quem conviveu com o regime sabe o que representa isso de atraso para qualquer nação. Nós como PSB, sempre defendemos o socialismo com liberdade, pregamos a democracia e o avanço na socialização dos bens dos indivíduos. Não compactuamos com nenhuma forma de corrupção e achamos que a política tem que ser feita de forma correta, porém, os episódios atuais e a corrupção não são criação do PT como nos faz acreditar muitas vezes a grande mídia. O que acontece também é que os órgãos de fiscalização tem maior autonomia e aparecem fazendo o seu trabalho e a corrupção não passa mais impunemente.

BM: Na visão de vocês chegou a hora de tentar alçar um voo mais alto tendo em vista a prefeitura municipal aqui em Conquista?

GF: Temos muito orgulho de ter participado nas alianças com o governo municipal de Vitória da Conquista e ter ajudado em tudo que se foi feito. É natural que o partido deva entender que ao se lançar uma candidatura deva se ter o cuidado em se pensar um novo viés, uma nova conformação de forças e que faça a cidade avançar de onde ela está sendo deixada. Acho que esse gesto mostra uma grandeza e uma preocupação com o futuro do município para não permitir que ele caia na mão de qualquer aventureiro ou de quem não tenha esses pré-requisitos que achamos importantes para se ingressar na administração municipal.

BM: Dentro desse contexto se ventila a possibilidade do vice-prefeito Joás Meira assumir a pré-candidatura a prefeito do PSB. Isso seria possível do vice-prefeito se lançar candidato com aceitação do partido?

GF: Essa é a vontade do PSB, claro que não estamos fechando para apenas um nome, Joás Meira é o quadro mais importante que o PSB tem hoje e como vice-prefeito tem uma extrema relação com Guilherme de respeito. Ele é o maior nome do partido por isso que falo que a sigla teria maior vontade, digamos assim uma preferência do nosso grupo. Mas, claro que não estamos impondo nenhum nome aos outros, nós queremos colocar um projeto em discussão de um programa de governo que amplie com outras forças políticas na cidade e que obviamente não estaremos restritos apenas ao seu nome. Hoje mesmo temos nomes de competência e de currículo intelectual que não só do nosso vice-prefeito, temos Zé Carlos Oliveira com experiência administrativa e foi secretário, Nadjara que já foi secretária, advogada e procuradora, o próprio presidente da Câmara Gilzete Moreira e somando agora ao PSB, Alexandre Pereira, que foi ex-presidente da Câmara por duas vezes e um dos melhores vereadores dos últimos  20 ou 30 anos.

BM: Como no futebol, vocês foram lá dentro do PT e trouxeram o Alexandre Pereira para  o partido de vocês. Como se deu essa nova chegada à sigla?

GF: É um processo natural, nós mesmos temos vários quadros que são ex-petistas. Isso acontece muito com essas pessoas que tem uma formação de centro esquerda que não se enxergam muito bem em um partido conservador de direita. Então, o PSB, tem essa trajetória de esquerda e um partido democrático, quando as pessoas estão insatisfeitas que é o caso e os motivos são muito parecidos, como a Nadjara, o Fábio Sena e hoje o Alexandre todos do PT foram discordâncias do convívio interno e é natural. Nós, não estamos fazendo negociata ou negociação baixa oferecendo nada para quem quer que seja. Estamos trazendo quadros importantes para o PSB dentro de uma estratégia de discussão do futuro da cidade.

BM: Então para finalizar, seria então a razão da Marta Suplicy, Cristovam Buarque e Luiza Erundina enxergarem que o PT não cumpre mais o seu papel?

GF: Quando o partido chega muitas vezes ao poder e o PT tem uma raiz forte com os movimentos sociais é natural que ao ficar no poder seja ele no plano local, estadual ou nacional, e alguns militantes que tinha aquela prática do debate interno e da contribuição no dia dia se sintam desconfortáveis. Acho que o PT precisa rever suas posições, com suas lideranças principais e com sua militância para saber o que deseja do futuro até porque existe um processo nacional que abala o partido.